Até alguns anos atrás, aborto caracterizava uma ação penal para quem o
praticasse. Hoje, quando a palavra aborto é usada, ela supõe imediatamente a
prática legal da retirada da criança do útero antes de nascer. Ainda que o
aborto provocado tenha sido legalizado em alguns países, ele continua
sendo imoral e pecaminoso.
Mudança de Opinião Médica
Os pró-aborcionistas têm feito o que podem para promover o
aborto provocado. Eles têm inventado expressões para descrever a criança não
nascida, e o processo abortivo, para tornar aceitável a nefanda prática.
O Dr. C. Everett Koop é cirurgião geral nos Estados Unidos.
Quando ele era cirurgião chefe do Hospital Infantil de Filadélfia,
Pennsylvânia, e professor de Pediatria e pediatra-cirurgião na Escola de
Medicina da Universidade da Pennsylvânia, ele escreveu:
“Nós, que como pessoa sempre soubemos que o
aborto é o assassinato de uma criança não nascida, fomos induzidos a crer que a
destruição do ‘produto da concepção’, ou a destruição de um feto, não é a mesma
coisa que matar uma criança não nascida. A definição médica tradicional foi
deliberadamente mudada o bastante para nos distanciar da nossa repugnância
contra o aborto”.
Os pró-aborcionistas tratam o aborto como um processo de
interrupção da gravidez. Eles falam de “evacuação do conteúdo uterino”, ou de
“remoção pós-conceptiva do conteúdo da fertilidade”. Tratam a criança não
nascida como “uma possível vida humana”, quando é sabido que o organismo está
vivo antes do nascimento.
Mas a vida humana é relativa somente antes do sêmen masculino e
o óvulo feminino se juntarem para formar o novo ser humano. Os cristãos não
devem ser iludidos pela sutileza da terminologia médica. Eles devem ser guiados
pelos princípios e preceitos da Palavra de Deus.
O que a Bíblia Diz Sobre os Não-Nascidos
Enquanto alguns tentam justificar o aborto antes que a criança
possa sobreviver fora do útero, a Bíblia não faz qualquer distinção no processo
da vida. O termo feto viável pode indicar propriamente, como fato científico, o
tempo em que a vida pode ser sustentada fora do ventre, mas isto não indica que
a vida, como pessoa, não exista antes disto.
Aqueles que são tentados a aceitar o aborto no estágio primário,
porque ele é declarado legal, deveriam antes considerar certas verdades
bíblicas.
1 – A Bíblia reconhece que uma mulher está com
um filho desde os primeiros estágios da gestação.
Quando a virgem Maria foi escolhida para ser a mãe de Jesus,
foi-lhe feito o seguinte anúncio: “Em teu ventre conceberás e darás à luz a um
filho” (Lucas
1.31). O anjo então informou a Maria que sua prima Isabel estava grávida. As
palavras ditas por ele foram estas: “Eis que também Isabel tua prima concebeu um
filho em sua velhice” (Lucas 1.36). A Escritura deixou claro que na fase
pré-natal João Batista foi reconhecido como um filho, embora faltassem três
meses para o seu nascimento.
Em Lucas 1.41-44, João antes de nascer é reconhecido como um
babe, que traduz uma palavra grega usada para criança, antes e depois do
nascimento (Atos 7.19). As palavras “ela também concebeu um filho” indica que Jesus era
reconhecido como um filho, embora a gravidez de Maria estivesse no estágio
primário.
A Bíblia também reconhece a fase pré-natal da vida como sendo
uma criança e não como um produto alternativo na concepção. Não há distinção no
valor da vida da criança nascida e da não nascida.
Mesmo quando a gravidez nos tempos bíblicos era devido a uma
relação ilícita, a qualidade, desta vida não era questionada. As filhas de Ló
engravidaram pelo incesto (Gênesis 19.36), mas isto não foi considerado motivo
para o aborto. Betsabá reconheceu que engravidara pelo adultério (2Samuel
11.5), mas isto não foi visto como um estorvo, como um apêndice descartável do
ventre materno.
João Calvino fez uma significativa observação a respeito do
aborto, numa preleção sobre Êxodo 21.22-23: “O feto, mesmo apegado ao
ventre da mãe, é contudo um ser humano e é um crime monstruoso roubar-lhe a
vida antes que ele possa usufruí-la. Se nos parece mais horrível matar um homem
em sua própria casa do que no campo, porque a casa de um homem é o lugar de
refúgio mais seguro, deve parecer-nos maior atrocidade destruir um feto no
ventre, antes que ele seja dado à luz”.
2 – A Bíblia reconhece que Deus é atuante no
processo da formação de uma nova vida.
Destruir uma gravidez é destruir a obra de Deus. Acerca de Leia,
a esposa de Jacó, a Bíblia descreve: “Quando o Senhor viu que Leia era
desprezada, abriu-lhe a madre. Então Leia concebeu e deu à luz um
filho” (Gênesis
29.31-32.
Quando Jó se comparou aos seus servos, ele argumentou: “Aquele que me formou no ventre
não os fez também a eles? Ou não nos formou do mesmo modo na madre?” (Jó 31.15). Mostrando
a imparcialidade de Deus, Jó afirma: “Quanto menos aquele que não faz acepção das
pessoas de príncipes, nem estima o rico mais do que o pobre; porque são todos
obra de suas mãos” (Jó 34.19).
Isaías, falando por Deus, escreve: “Assim diz o Senhor que te
criou e te formou desde o ventre e que te ajudará: não temas ó Jacó, servo meu” (Isaías 44.2). E
depois: “Assim
diz o Senhor teu Redentor e que te formou desde o ventre: Eu sou o Senhor que
faço todas as coisas” (Isaías 44.24).
Davi sumarizou bem quando escreveu: “Tu possuíste os meus rins,
entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei porque de um modo
terrível e tão maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras e a
minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no
oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos
viram o meu corpo ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus
dias,cada um deles escrito e determinado, quando nenhum deles havia ainda”
(Salmo 139.13-16).
Acerca da mesma passagem, Donald Shoemaker escreveu: “Esta passagem pode por si
mesma evocar uma santa advertência e respeito pela vida do não-nascido. Deus
está neste negócio, e como podemos observar, nós devemos louvá-lo, porque o lugar
onde estamos é terra santa. Tal respeito pela origem não -se encontra nos
pró-aborcionistas. Deles é uma profana intromissão no divino laboratório, para
destruir a obra do bendito Criador. Deus ama os não-nascidos. Este Salmo não
deve ser relegado”.
O Deus onisciente que sabe o que acontece às pessoas depois do
nascimento, também sabe o que lhes acontece antes de nascerem. Ele é atuante no
processo gerador e interromper a gestação é destruir a obra de Deus. O aborto é
o diabólico desafio do homem ao Altíssimo. É a indicação do profundo abismo no
qual esta sociedade conivente está mergulhando.
3- A Bíblia Reconhece que Deus Tem Planos para
os Não-Nascidos. Somente Ele Sabe o Potencial Dessa Nova Vida.
Quando Deus chamou Jeremias para o seu ministério profético, ele
indicou que a ordenação fora pré-natal quando disse: “Antes que eu te formasses no
ventre materno, eu te conheci e antes que saísses da madre, te consagrei; e te
constitui profeta às nações” (Jeremias 1.5).
Quando Zacarias, o sacerdote, estava ministrando no altar do
incenso, um anjo anunciou que sua esposa Isabel daria à luz um filho, que seria
chamado João. Assim foi revelado que Deus tinha planos definidos para aquele
menino. Ele seria o precursor de Jesus Cristo (Lucas 1.11-17).
Destruir a vida de uma criança não nascida é flagrante
desconsideração aos planos de Deus para esta vida. É privar uma pessoa
não-nascida do privilégio de chegar a ser uma bênção, um instrumento nas mãos
de Deus.
4 – A Bíblia Reconhece que Deus É Soberano em
Todas as Coisas, Inclusive na Qualidade de Vida do Não-Nascido.
Quando o povo rejeitou a Deus, eventualmente ele tornou a vida
humana relativa. Alguns são considerados aptos para viver, enquanto outros
parecem dispensáveis. Um estudo feito pelo Dr. Léo Alexander da Universidade de
Harvard, mostrou que o começo do holocausto fundamentou-se na crença de que
algumas vidas humanas eram dispensáveis. Como resultado desta crença, eles
mataram os indesejáveis, os aleijados, os retardados e eventualmente todos os
incapacitados que serviram à Alemanha na I Guerra Mundial. Daí para o
holocausto foi um pulo.
Quando uma pessoa se coloca no lugar de Deus, para determinar se
a vida é viável – quer quer antes, quer depois do nascimento – ela está
rejeitando a soberania do Criador de todas as coisas.
Há coisas que o homem finito não pode entender. Os caminhos de
Deus são mais altos que os caminhos do homem. Enquanto a tecnologia médica
atual procura condições mínimas para que uma criança não-nascida seja digna de
viver, é bom lembrar que elas são criaturas de Deus.
Quando um homem estabelece critérios para o que constitui vida
inviável, ele está invariavelmente errado, porque falha no julgamento do plano
e do propósito de Deus. Quem, senão Deus, sabe que vantagens poderiam trazer
milhões de crianças impedidas de nascer para melhorar a qualidade deste mundo?
É justa a preocupação dos cristãos diante do malefício do aborta provocado, e
estes devem agir como agiriam em face de outra ameaça de igual monta. Há
medidas que os cristãos podem tomar para restringir ou aniquilar essa tendência
imoral
Em um discurso diante da Câmara dos Deputados, nos Estados
Unidos, foi feita uma declaração por uma pessoa que nasceu de um estrupo: “Algumas pessoas renegam sua
origem. Eu não me envergonho de citar a minha. Não me acrescenta nem me
diminui. Eu nasci na pobreza. Meu pai estrupou minha mãe quando ela tinha doze
anos. Agora eles têm destinado uma vasta área de terra para mim em Chester,
Pennsylvânia”.
A citação foi feita por Ethel Waters, que havia pregado para
milhões por meio de canções evangélicas. O aborto seria legal naquela época,
desde que alguém se aventurasse a sugerir. Se isto tivesse acontecido, o mundo
teria sido muito prejudicado. O trabalho de evangelismo teria sido privado de
uma grande cantora evangélica.
5 – Perigo para a Mãe
Há alguns anos muitas mulheres morriam como resultado da
gravidez. Em nossos dias, devido ao avanço da ciência médica, raramente
acontece um caso destes. Quando acontece um problema e depois da oração em prol
da cura divina o milagre não se verifica, as pessoas envolvidas precisam buscar
ao Senhor no sentido de outra espécie de socorro. O diagnóstico da medicina
será de grande ajuda para se chegar às próprias conclusões.
6 – A atitude de Deus
A Palavra de Deus é muito explícita a respeito do
homicídio: “Não matarás” (Êxodo 20.13). É não somente um dos Dez Mandamentos, mas
uma prescrição que atravessa toda a Escritura.
Deus instruiu a Moisés para determinar aos filhos de Israel uma
lei que regularia a vida da criança antes de nascer: “Se alguns homens pelejarem e
ferirem uma mulher grávida e lhe causarem o aborto, embora não haja morte,
certamente serão multados, conforme o que o marido determinar, e pagarão diante
dos juízes. Mas, se houver morte, então darás vida por vida, olho por olho,
dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Êxodo 21.22-24).
O Dr. Stanley M. Horton, professor de Velho Testamento e
Hebraico no Seminário Teológico da Assembleia de Deus, concordando com outras
opiniões sobre o texto acima, escreve: “A situação aqui é de dois homens que estão
brigando, depois de uma discussão. O mesmo verbo hebraico é usado em Êxodo
2.13, quando Moisés viu dois homens brigando. De certa forma, durante a luta
eles feriram uma mulher grávida e ela teve um parto prematuro. Não tendo havido
intenção, nem acidente para o filho ou a mãe, então o homem que atingiu à
mulher deveria pagar apenas uma multa, segundo a exigência do marido e
sancionada pelos juízes. Mas, se tivesse havido morte para o filho, para mulher
ou para ambos, então o ofensor deveria pagar com a própria vida”.
“Seu fruto” é no hebraico yeladeha, traduzido como filho neste
mesmo capítulo, verso 4, bem como em outras partes onde aparece no Velho
Testamento. O plural é usado aqui, porque não se podia saber de antemão quantas
crianças havia no ventre.
“Mischief”, no hebraico ason, é usado em Gênesis 42.4, onde Jacó
se mostra temeroso de que Benjamim viesse a morrer, como ele pensava que
tivesse acontecido a José (Gênesis 42.38; 44.29). Desse modo fica claro que o
feto era reconhecido como uma criança e tinha os mesmos direitos dos filhos
mais velhos.
A atitude de Deus sobre a morte de inocentes é claro. Exceto na
pena capital decretada através de processo judicial (Números 35.12), ou
proteção da propriedade à noite, provavelmente envolvendo a legítima defesa
(Êxodo 22.2), ninguém é inculpável se matar o seu semelhante.
7 – Preocupação Cristã
É justa a preocupação dos cristãos diante do malefício do aborto
provocado e estes devem agir como agiriam ,em face de outra ameaça de igual
monta. Há medidas que os cristãos podem tomar para restringir ou aniquilar essa
tendência imoral:
a) Primeiramente, os cristãos podem orar pela intervenção divina
nas atitudes dos homens. Isto poderia eliminar a degradação nacional dos
padrões morais e consequentemente das leis que permitem essas iniquidades, tais
como aborto provocado por conveniência.
O poder de um avivamento espiritual tem sido histórico. A França
e a Inglaterra foram assoladas por revoluções no século 18. A França teve uma revolução
política, que resultou em indescritível sofrimento e muito sangue derramado. A
Inglaterra teve uma revolução industrial. A diferença entre as duas é que a
Inglaterra experimentou um avivamento espiritual, que elevou o nível de vida no
país, possivelmente afastando uma violenta revolução igual à que a França experimentou.
Destruir a vida de uma criança não nascida é
flagrante desconsideração aos planos de Deus para esta vida. É privar uma
pessoa não nascida do privilégio de chegar a ser uma bênção, um instrumento nas
mãos de Deus.
Um avivamento espiritual em nosso país teria uma influência
salutar sobre o clima moral hodierno. Não somente a pureza da vida humana seria
honrada, mas os padrões morais em geral seriam estimulados.
b) Cristãos interessados poderiam subsidiar instituições
bíblicas pró-moral em todas as áreas possíveis. Ao invés dos critérios da
igreja serem influenciados pela humanística e pelas filosofias ateístas, uma
igreja cuidadosamente sedimentada nas verdades do Evangelho pode influir nos
padrões da sociedade.
Quando o povo aceita as diretrizes das Escrituras, ao invés dos
valores relativos provenientes do especulativo raciocínio humano, todos os
níveis de vida serão grandemente elevados.
Quando o descaso dos modelos de justiça bíblicos é reconhecido
como pecado; quando a recusa em reconhecer a soberania de Deus é reconhecida
como pecado; quando a rejeição da salvação em Jesus e seu senhorio é
reconhecida como pecado, a condição da sociedade é grandemente aperfeiçoada.
Então, problemas tais como o aborto ficam minimizados.
À instrução bíblica deve ser dada ênfase tanto na igreja como no
lar. Os crentes devem estar firmemente alicerçados nas Escrituras, de tal modo
que possam dar a razão de sua fé, baseados na Palavra de Deus.
c) Cristãos interessados poderiam aconselhar aos que estão às
voltas com uma gravidez indesejável sobre a alternativa da adoção. Eles
manteriam agências cristãs que tramitassem a cessão de crianças a pessoas que
as desejassem adotar. Casais com esse tipo de problema encontram-se
pessoalmente muito confusos.
d) Cristãos interessados poderiam manter uma organização
pró-vida em oposição a qualquer tipo de legislação instituída para destruir a
fibra moral da sociedade. Como cidadãos, eles poderiam expressar suas opiniões
às autoridades. Poderiam influir em determinadas classes de pessoas que
estivessem investidas de funções públicas.
e) Cristãos interessados poderiam compassivamente ministrar para
aqueles que vivem acossados pelo remorso de terem praticado ou participado de
atos abortivos. Estas pessoas precisam ser lembradas de que quando confessam
seus pecados ao Senhor, ele os perdoa e purifica. Elas precisam ser lembradas
de que Jesus disse: “Aquele que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6.37). Precisam
de oração, apoio moral daqueles que já estão sob a proteção do Senhor.
Traduzido por Miguel Vaz
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