Os católicos alegam que os
protestantes devem confiar em sua tradição para saber que livros devem incluir
no cânon Bíblico. O argumento diz que desde que não há um “índice inspirado” da
Bíblia, então nós somos forçados a confiar na tradição católica para saber que
livros pertencem realmente à Bíblia, e que livros não pertencem.
Os católicos ainda alegam
que foi a igreja de Roma, que determinou o cânon bíblico nos Concílios de
Hipona (393 A.D.) e Cartago (397 A.D.), e somente por isso que hoje os
protestantes sabem quais livros são inspirados, e quais não são.
Conseqüentemente, é à Igreja Romana que deveríamos nos submeter em questões de
fé e decisões doutrinárias.
Contudo, o argumento acima é espúrio por diversas razões as quais nós iremos comentar logo abaixo:
Cartago e Hipona
Primeiramente, os Concílios
de Cartago e Hipona não estabeleceram o cânon à Igreja como um todo. Até mesmo
“A Nova Enciclopédia Católica” em inglês assegura o fato de que o Cânon não
esteve oficialmente estabelecido à Igreja Ocidental até o Concílio de Trento no
século XVI e que até mesmo uma autoridade tal como Gregório – o Grande, que
posteriormente veio a ser papa havia rejeitado os Apócrifos como canônicos.
Jerônimo, chamado de doutor
da igreja, fez uma clara distinção entre os livros que considerava canônicos e
eclesiásticos. Quanto ao ultimo grupo ele declarou que poderia circular pela
Igreja como literatura útil, mas não foi reconhecida como Escritura Sagrada e
autorizada para fins doutrinários.
A situação permaneceu obscura nos séculos seguintes. Por Exemplo, João
Damasceno, Gregório o Grande, Walafrid, Nicolas de Lyra continuaram a duvidar
da canonicidade dos livros deuterocanônicos. Segundo a doutrina católica, o
critério usado para definir o cânon bíblico é a decisão infalível da Igreja. No
entanto esta tal decisão nunca foi tomada antes do Concílio de Trento. Que isto
não tinha sido feito antes de Trento é provado pela incerteza que persistia até
o tempo deste Concílio.
Houve pais da igreja de
grande influência antes dos Concílios Africanos do Norte que rejeitariam o
julgamento destes dois Concílios tais como Orígenes, Melito de Sardes,
Atanásio, Cirilo de Jerusalém, Gregório de Nazianzeno, Hilário de Poitiers,
Epifânio, Basílio o Grande, Jerônimo, Rufino e muitos outros. Eles defendiam
que os livros do Velho Testamento foram em número de 22 ou às vezes 24,
dependendo de como os livros eram agrupados. Isto corresponde ao cânon Judaico
que não aceitava os livros apócrifos como sendo canônicos. Jerônimo, que gastou
muitos anos estudando na palestina e que teve mestres judaicos, rejeitou os
apócrifos porque aqueles livros não foram reconhecidos como canônicos pelos
Judeus.
A objeção que os católicos
levantam é que se a Septuaginta incluía esses livros é prova de que os judeus
alexandrinos tiveram um cânon mais extenso que seus irmãos palestinenses.
Todavia isso não passa de mera especulação. Eles fazem esta afirmação porque os
livros apócrifos são incluídos em alguns dos antigos manuscritos que nós temos
da Septuaginta. Mas se isto prova alguma coisa, prova no máximo que a
Septuaginta incluía os livros apócrifos junto com os livros canônicos do velho
Testamento para propósitos de leitura, e não que eles fossem recebidos como
canônicos. O manuscrito mais antigo que nós possuímos da Septuaginta remonta ao
4º ou 5º século d.C. Sendo assim eles não refletem necessariamente a crença dos
Judeus de Alexandria sobre os apócrifos. Também, esses manuscritos da
Septuaginta contêm livros tal como III Macabeus que nunca foi aceito como
canônico por Roma. Acrescenta-se a isso, como importante fato, que Orígenes e
Atanásio mesmo sendo de Alexandria, ambos rejeitaram os livros apócrifos como
sendo canônicos. O único livro apócrifo que Atanásio incluiu na sua lista foi
Baruque, mas isto devido ao fato de ele ter pensado que este livro fazia parte
do livro de Jeremias.
Hipona e Cartago foram
concílios locais que não tiveram autoridade ecumênica. Em adição, podemos dizer
que mesmo aqueles dois Concílios contradizem o Concílio de Trento em um ponto
importante. Primeiramente, Hipona e Cartago declara que 1 Esdras e 2 Esdras são
canônicos. Eles estão referindo aqui à versão Septuaginta de 1 e 2 Esdras.
Nesta versão 1 Esdras é uma adição apócrifa a Esdras enquanto 2 Esdras é a
versão Judaica de Esdras-Neemias do cânon Judaico. O Concílio de Trento,
entretanto declara que 1 Esdras é realmente o Esdras do cânon Judaico e 2
Esdras é Neemias do cânon Judaico. Trento omite a versão da Septuaginta de 1
Esdras.
Outro ponto que prova ser
as alegações católicas infundadas é o fato de que a prática universal da Igreja
como um todo até o tempo da Reforma foi seguir o julgamento de Jerônimo que
havia rejeitado os apócrifos. Aqueles livros tiveram a permissão de serem lidos
na Igreja para fins de edificação, mas nunca foram considerados autorizados
para estabelecer doutrinas.
Parece que a igreja dava
dois significados para o termo “canônico” em relação aos livros da Bíblia: um
mais lato no sentido de incluir todos os livros que foram permitidos serem
lidos nas igrejas e outro mais restrito que incluía unicamente aqueles livros
que foram considerados como autoridade para estabelecer doutrina.
O caso da Glossa Ordinária
– Esta Glosa foi um comentário bíblico autorizado para a Igreja Ocidental como
um todo. Seu prefácio declara que a Igreja permite a leitura dos livros
apócrifos somente para a devoção e instruções e costumes, mas que eles não
possuem nenhuma autoridade para decidir controvérsias em matérias de Fé. Ele
ainda declara que há 22 livros do AT e apela para os testemunhos de Orígenes,
Jerônimo e Rufino.
Conclusão
As reivindicações que a
igreja romana faz sobre o cânon são historicamente insustentáveis. Ela sugere
que nós deveríamos receber seus ensinos como autoridade suprema por causa desta
questão do cânon, pressupondo que foi ela quem nos deu a lista correta dos
livros canônicos. Mas isto equivale aos fariseus exigirem que Jesus recebesse
seus ensinos como autoridade suprema simplesmente porque como Judeus eles
tinham determinado que livros faziam parte do cânon. Mesmo que as reclamações
da Igreja Romana estivessem corretas com respeito ao cânon, isto não prova de
maneira alguma que ela está automaticamente correta em todas as áreas
pertinentes à sã doutrina, e que nós deveríamos obedecê-la e receber como
autenticas suas doutrinas extrabíblicas, não mais do que Jesus deveria receber
as doutrinas ou seguir os fariseus hipócritas. As principais doutrinas romanas
contradizem as sagradas escrituras tais como a Tradição Oral, o Papado, Maria,
os sacramentos, o purgatório, além do que o seu cânon é diferente do cânon da
igreja primitiva.
Por Prof. Paulo Cristiano
da Silva
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