O poder da propaganda é algo indiscutível. Quando se deu notícia, em
nossos dias, da publicação do livro O CÓDIGO DA BÍBLIA, do
escritor Michael Drosnin e do matemático Eliyahu Rips, informando que havia uma
linguagem em código nos livros da lei, conhecido como o Pentateuco (a Torah), o
mundo religioso que lê a Bíblia ficou estupefato. É que as notícias espalhadas
diziam que os cinco primeiros livros da Bíblia seriam um intrincado computador,
que contém uma série de profecias codificadas, que revelavam o futuro do
mundo. Esse código, diziam os escritores, pode ser decifrado através de operações
matemáticas decodificadas por eles. Com isso, diziam que havia uma mensagem
secreta da Bíblia, oculta há quase três mil anos. Ora, teria Deus inspirado um
livro cuja mensagem estava oculta da humanidade, e que só alguns privilegiados
poderiam decifrar essa mensagem? O que dizer de textos frequentemente usados
pelos leitores da Bíblia, que encontravam nela a mensagem de Deus na leitura
literal do texto?
A ORIGEM DA CABALA
Qualquer pessoa que investigue a História da Igreja verá que esse tipo
de interpretação ocultista da Bíblia já existiu antes. Uma delas é a Cabala.
Afirma-se que etimologia da palavra Cabala é formada do prefixo ‘kab’, que em língua semita
significa “osso
de calcanhar” e
do sufixo Alá, que significa Deus (A Maçonaria e o
Livro Sagrado, p. 93). Com isso se dá o sentido de ‘a estrutura óssea‘, a ‘carcaça’ do conhecimento divino.
Os cabalistas explicam a origem da cabala dizendo que Enoque (Gênesis
5.21-24) ensinou ao patriarca Abraão uma doutrina oculta, que este transmitiu
oralmente aos seus filhos e netos. Posteriormente, Moisés redigiu por escrito
esses ensinamentos no livro da Lei ou Pentateuco. Segundo ainda os cabalistas,
Moisés previu que a sua mensagem, pura como era, não se conservaria nas mãos do
povo, que peregrinava pelo deserto, tencionou evitar falsas interpretações,
confiando as chaves do entendimento de seus escritos a homens seguros, de
fidelidade comprovada, entregando-lhes de viva voz os esclarecimentos
necessários para uma autêntica compreensão da Torah.
Os discípulos de Moisés confiaram esses ensinamentos secretos a outros
homens, que os passaram adiante. Para se conservar inalterado o texto sagrado,
os profetas ditaram normas aos leitores e copistas, normas estas derivadas do
esoterismo de Israel, e que hoje se chamam “Massorah”. Esta, juntamente com
outras tradições secretas (Michná, Gemará, Targum), constituem a chamada
‘Cabala Judaica’.
Alguns cabalistas dignos de nota são Moses de Leon, Isaac Ben Salomão,
Ashkenazi Luria e H. Vital.
A MENSAGEM OCULTA
Os fundadores da Cabala tratam cada letra, número e acento do livro da
Lei, conhecido como a Torah ou Pentateuco, como se fossem um código secreto,
contendo alguma profecia ou significado profundo, mas oculto, colocado lá por
Deus com algum propósito. O ponto central está em desvendar os segredos da
maravilha e da majestade de Deus e sua criação divina. Dizem que esse código
secreto contém um mistério, que só pode ser descoberto pelos iniciados em Artes
Iniciáticas. Abrange o hermetismo, cromoterapia, numerologia, astrologia, magia,
angelologia, comunicação com espíritos dos mortos, curandeirismo etc. É
essencialmente um envolvimento com o ocultismo em quase todas as suas
modalidades. Procura, assim, oferecer soluções prontas, por vias sobre humanas,
a pessoas desanimadas ou que colocam a razão de lado para atender à curiosidade
com relação aos poderes tidos como extra sensoriais, ou que fogem aos cinco
sentidos.
OBRAS IMPORTANTES
Duas obras importantes surgiram na Babilônia que são: 1) O Sefer
Yetzirah (o Livro da Formação), um estudo sobre os poderes criativos das letras
e dos números. 2) O Shiur Komah (A Medida de Altura), uma obra antropomórfica
sobre as dimensões da deidade. O maior texto da Cabala, que contém a maior
parte da tradição, é Sefer Hazohar (“O Livro do Esplendor”), escrito por Simeão
Ben Jochai “sob ordem vinda do alto”.
DOUTRINAS
A Cabala pode ser teórica ou prática. A teórica ensina algo sobre o
mistério da divindade. Declara então que o propósito da Cabala, aparentemente,
é ler a mente divina e assim tornar-se unitário com Deus. Abrange também a
criação e a queda dos anjos, a origem do mundo em sete dias, a criação e a
queda do homem, os caminhos para a restauração, adotando para isso a
reencarnação. A Cabala prática ou mágica é conservada no manuscrito As Clavículas de Salomão. Procura orientar o
comportamento do homem observando símbolos sagrados, especialmente as letras
hebraicas, às quais é atribuídos valor numérico e valor quantitativo. Em
consequência, foram criados baralhos ou séries de cartas, portadores de imagens
simbólicas e números. Essas cartas, tiradas segundo certas regras, devem
definir o caráter e o comportamento das pessoas interessadas. O mais importante
de tais baralhos é o tarô, que consta de 22 símbolos (Arcanos Maiores). Em
períodos de enfermidades a pessoa pode mudar seu nome, a fim de procurar
beneficiar-se da mudança de letras e de seus valores numéricos, usa Amuletos,
formas de Adivinhação, etc.
IDENTIDADE COM A MAÇONARIA
O Dicionário
de Maçonaria, Editora
Pensamento, de Joaquim Gervásio de Figueiredo, na p. 89, sob os verbetes cabalistas e cabalísticos declara:
CABALISTAS ou CABALÍSTICOS. Denominação dada aos maçons; sistemas,
ordens, ritos e obras dedicados à cabala ou dela derivados”.
CABALÍSTICA. 1)
Título atribuído à 4ª das séries em que se divide o Rito de Misraim. Tal série
se subdivide em três grupos ou classes, que são: 15ª, 16ª e 17ª e estas
compreendem os graus superiores, ou sejam, os dos graus 78º ao 90º; 2) A mesma
denominação tem a 4ª série dos 90º da Ordem dos Sofisios, que vai do grau 78º
ao 90º“.
No livro A
Maçonaria e o Livro Sagrado,
p. 93: “A
Maçonaria está eivada de aplicações numéricas, quer nos graus simbólicos, quer
nos filosóficos”.
ENTRE OS CRISTÃOS
A Cabala não apenas tem ligação íntima com a Maçonaria, como também entre
os cristãos. Devido ao relacionamento entre o Judaísmo e o Cristianismo, os
líderes e eruditos cristãos deixaram-se influenciar pela Cabala. Isso ocorreu
durante a Idade Média. Dizem os cabalísticos que os livros de Ezequiel, Daniel
e Apocalipse são puramente alegóricos e cabalistas.
POSIÇÃO BÍBLICA
Analisando alguns dos ensinos e práticas da Cabala à luz da Bíblia,
apresentamos as seguintes contestações:
A Cabala tem como propósito central conhecer ou ler a mente divina,
procurando tornar o homem um com Deus. Em linguagem atual, esse propósito de
integrar-se à divindade é conhecido como o Panteísmo (tudo é Deus). Esse desejo
de atingir a divindade já foi objeto de um ser criado perfeito por Deus, mas
que deu lugar ao orgulho e tornou-se o sedutor da humanidade. Hoje é conhecido
pelos nomes de diabo ou Satanás. Seu propósito, ao cair da posição honrosa que
ocupava no céu, foi levar esse mesmo intento ao casal no Éden. Disse ele: “Sereis
como Deus, conhecendo o bem e o mal” (Gênesis 3.1-5). Por três modos
Deus se deixou ser conhecido pelo homem: a) pela criação (Romanos 1.19-20); b)
pela própria Bíblia (Hebreus 1.1); e c) por seu Filho Jesus Cristo (João 5.39).
Quando o homem procura conhecer a vontade de Deus, deve aceitar os meios
que Ele dispôs para isso, e se O buscarmos de todo o coração certamente O
encontraremos. Não do modo do homem, pois o homem natural não conhece as coisas
de Deus, porque lhe parecem loucura. E então se cumpre o que disse Paulo em
Romanos 7.22: “Porque,
segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus”.
Deus diz em sua Palavra: “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?
Agora cinge os teus lombos, como homem; e perguntar-te-ei, e tu me
ensinarás” (Jó
38.2-4).
A preocupação da Cabala é ler a Bíblia, e através de normas
cabalísticas, entender a mensagem de Deus para os homens. Esse modo singular de
entender a mensagem da Bíblia não é próprio. A Bíblia tem uma linguagem
literal, que pode ser entendida pelas pessoas humildes como afirmou Jesus
(Mateus 11.25). Paulo, por sua vez, declara que os homens pela sua inteligência
não conseguiram conhecer Deus, e por isso aprouve a Deus salvar os crentes pela
loucura da pregação do evangelho. A mensagem central do evangelho foi apontada
pelo mesmo escritor bíblico, dizendo: “Porque primeiramente vos
entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as
Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras” (ICoríntios 15.3-4). Isso contraria outro ensino fundamental
da Cabala.
Dentro das normas cabalísticas, a restauração do homem se dá pela
reencarnação. Tal teoria é condenada na Bíblia, que não ensina a reencarnação
como o modo de se alcançar a meta final de tornar-se um espírito puro,
reencarnando quantas vezes forem necessárias, em cada uma das vezes deixando de
lado os erros cometidos na vida anterior. Ora, estudar a Bíblia para conhecer a
mente de Deus, e integrar-se à divindade por esforços próprios é algo
impossível. Primeiro, porque tentar igualar o Criador com a criatura é algo
descabido. E segundo, o método para uma intimidade com Deus está em recebermos
gratuitamente o perdão dos nossos pecados, que podem ser apagados mediante a
aceitação do plano de Deus para o homem. Dentro do plano divino para a salvação
do homem está a dádiva do seu Filho Jesus Cristo, para propiciação pelos nossos
pecados (IJoão 1.9 e 2.1-2,12). Adotar a reencarnação para o progresso
espiritual do homem é contar com o impossível. É tentar levantar-se puxando os
cadarços do sapato. Não sai do lugar. Mas podemos sentar nas regiões celestiais
por aceitar o que Deus nos oferece na pessoa de Jesus Cristo (Efésios 2.1-5).
Com relação à prática, a Cabala faz uso de baralhos e adivinhações para
conhecer o futuro de cada pessoa, e traçar caminhos para um bom relacionamento
familiar e social. Deus condena na Bíblia de modo claro e inequívoco a busca de
conhecimentos fora do revelado literalmente na sua Palavra, de modo a não
deixar dúvidas sobre haver uma interpretação oculta revelada para poucos.
“Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e
os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu
Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos? À lei e ao testemunho! Se
eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Isaías 8.19-20).
E, pior, o exercício de tais práticas esotéricas conduz à
perdição: “Mas,
quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos
fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua
parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte” (Apocalipse 21.8).
“Não seguireis outros deuses, os deuses dos povos que houver ao redor de
vós; porque o SENHOR teu Deus é um Deus zeloso no meio de ti, para que a ira do
SENHOR teu Deus se não acenda contra ti e te destrua de sobre a face da terra” (Deuteronômio 6.14-15).
“Assim fez Salomão o que parecia mal aos olhos do SENHOR; e não
perseverou em seguir ao SENHOR, como Davi, seu pai” (IReis 11.6).
“Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada
acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado
mentiroso” (Provérbios
30.5-6).
“Eu sou o SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não
darei, nem o meu louvor às imagens de escultura” (Isaías 42.8).
“Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso
pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não
há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque
é mentiroso, e pai da mentira” (João 8.44).
“Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia,
assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem
da simplicidade que há em Cristo. Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus
que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou
outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis” (IICoríntios 11.3-4).
Por Pr. Natanael Rinaldi
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