Neste final de século XX,
alguns cristãos estão se portando como se fossem semideuses. Entre eles há uma
mistura enorme de crentes arrogantes, cristãos fanáticos, falsos profetas,
exploradores da credibilidade popular e doentes mentais. Esperemos que haja
também algum cristão apenas equivocado.
Enquanto o apóstolo Paulo
esperou catorze anos para contar o seu arrebatamento ao terceiro céu e o fez
com a maior discrição possível (2Coríntios 12.1-10), os casos de arrebatamento
hoje em dia são estranhamente comuns, acentuadamente numerosos e
escandalosamente imodestos. Parece haver até uma espécie de competição entre os
arrebatados.
Enquanto os profetas mencionados na Bíblia sentiam-se esmagados
pelo peso da santidade e da glória de Deus em suas visões do Senhor, os
visionários de hoje não sofrem impacto nenhum. Alan B. Pieratt faz uma análise
muito séria das visões da Bíblia e das visões de Kenneth Hagin, no livro “O
Evangelho da Prosperidade”, páginas 99 a 109.
Ao invés de descrever a glória do Senhor, menciona aspectos
frívolos: “Jesus tinha um manto branco e
calçava sandálias romanas. Tinha um metro e oitenta centímetros de altura e
pesava 75 quilos. Passou pela porta e quase que a fechou. Andou ao redor de
minha cama, pegou uma cadeira, empurrou-a na minha direção, sentou-se, cruzou
as mãos, e começou sua conversa”. Essa visão de Hagin aparece em
seu livro “How You Can Be Led By The Spirit of God” (1978)e é citado
no livro “O Evangelho da Nova Era” e Allan Pieratt na obra citada acima.
Enquanto os apóstolos reagiam enérgica e vigorosamente contra
qualquer homenagem devida unicamente a Deus, e se declaravam humanos e não
divinos, os profetas da Teologia da Prosperidade ensinam o contrário aos seus
discípulos: “Você não tem Deus morando dentro de você? Você é Deus!”. Alguns
deles exigem que o público repita em uníssono com eles: “Eu sou uma exata
réplica de Deus”.
Isto contrasta chocantemente com a atitude de Pedro, quando o
centurião Cornélio se ajoelhou diante dele em Cesareia. A Bíblia diz que o
apóstolo mesmo o levantou e lhe ordenou: “Ergue-te, que eu também sou homem” (At 10.26).
Contrasta também com a atitude de Paulo e Barnabé, quando as multidões de
Listra, entusiasmadas com a cura do coxo, começaram a tratar os missionários
como deuses em forma humana. Apavorados com tamanha distorção, os apóstolos
investiram contra o povaréu e clamaram: “Senhores,
por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos
sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos
convertais ao Deus Vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles” (Atos
14.15). Enquanto as Escrituras Sagradas nos ensinam e nos encorajam a pedir as
preciosas bênçãos de Deus (1Reis 3.5, Jeremias 33.3, Mateus 7.7-11, 18.19,
21.22; João 14.14), os pregadores da prosperidade nos ordenam a exigir de Deus
os nossos direitos, em nome de Jesus. Segundo eles, não é necessário considerar
a vontade de Deus na oração, nem orar mais de uma vez por alguma coisa, pois
isto é falta de fé. O que o crente precisa fazer é chamar à existência as
coisas que não são, pois é assim que Deus age. Ele “vivifica os mortos e chama à existência as
coisas que não existem” (Romanos 4.17). Por esta razão, devo
dar glória a Deus antes mesmo de se tomar visível aquilo pelo qual eu orei, e
devo agir como se tivesse já recebido a bênção exigida. Alan B. Pieraatt
explica esta questão de exigir nossos direitos no capítulo que fala sobra A
Confissão Positiva (obra citada, páginas 64 a 86).
Enquanto a Bíblia manda tomar cuidado com os falsos profetas
(Mateus 7.15), com os pregadores de “outro
Jesus” (2Coríntios 11.4) e “outro evangelho” (Gálatas 1.6-9), com os
enganadores que também viajam pelo mundo fora (2João 7-8) e com os espíritos
que não procedem de Deus (1João 4.1) – um dos mais importantes profetas da
Teologia da Prosperidade (Kenneth Hagin), não tolera qualquer questionamento de
seus ensinos e ameaça aos que a eles se opõem: “Se um pastor não aceitar essa mensagem, então lhe sobrevirá
julgamento. Esse julgamento pode ser a morte física. Haverá ministros que não a
aceitarão e cairão mortos no púlpito”. As muitas visões de Hagin
deram-lhe a convicção de que ele é um porta-voz escolhido de Deus, conforme se
vê no capítulo Autoridade Espiritual (Alan
Pieratt, obra citada, páginas 38-50). É bom lembrar que Paulo repreendeu a
Pedro “na presença de todos” quando
este deixou de proceder corretamente no que diz respeito aos judaizantes
(Gálatas 2.14) e que Lucas elogiou os bereanos por examinarem as Escrituras,
para ver se o que Paulo pregava estava de acordo com a Palavra de Deus (Atos
17.11).
Todavia não são apenas as pessoas envolvidas com a Teologia da
Prosperidade que alimentam a era dos semideuses. A questão da guerra
espiritual, quando levada ao extremo, também gera um tipo de crente que abusa
demais de certos verbos na primeira pessoa do singular: “eu ordeno”, eu
amarro”, “eu mando embora”, “eu repreendo”, “eu comando” e assim por diante.
Uma psicóloga residente em São Paulo elaborou um trabalho sobre demonismo, no
qual usa uma dezena de vezes o verbo comandar, referindo-se aos demônios: “Eu
te comando para me responder algumas perguntas”. “Eu comando que você se
manifeste e comando todos os demônios presentes para saírem dessa mulher
(possessa)”. Graças à insistência da psicóloga exorcista, os demônios revelaram
seu nomes e contaram certos segredos de sua estratégia, como, por exemplo, os
espíritos de mais alta hierarquia podem viajar por todo o mundo, mas os de
hierarquia mais baixa governam áreas geográficas específicas. A psicóloga
conclui que um dos demônios (Asmodeus), “não desejava falar, mas obviamente o
meu comando para falar a verdade estava tendo efeito nele e ele estava sendo
forçado a falar” (Rita Cabezas de Krumm, em Áreas de Influência Satânica,
trabalho não publicado).
Para finalizar, é pertinente citar o trágico acontecimento que vitimou mais de oitenta pessoas na pequena cidade de Waco, no estado norte-americano do Texas, envolvendo um rapaz de 33 anos chamado David Koresh, que se dizia o Cristo. Veja os detalhes no site Museu de Imagens, museudeimagens.com.br/david-koresh-assedio-de-waco/
E os outros casos?
A era dos semideuses precisa acabar logo!
Nota: Este texto foi escrito em
1992 e seu autor é desconhecido.
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