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quarta-feira, 19 de maio de 2021

As imagens de Maria e o segundo mandamento

 

“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não re encurvarás a elas nem as servirás” (Êxodo 20.4-5).

“Não farás para ti” – Entende-se a posse do objeto quando destinado ao culto, à homenagem, à prece, à veneração. Deus não condena as obras de arte, escultura ou pintura de valor histórico e cultural.

“Nem alguma semelhança do que há em cima nos céus” – Não encontramos diferenças relevantes de tradução nas versões consultadas. A proibição não alcança apenas as imagens dos deuses, mas diz respeito, também, ao que existe nos céus: A Trindade (Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo), os anjos e os salvos em Cristo. Logo, estátuas de Jesus, dos santos apóstolos, de Maria, e de quantos, pelo nosso julgamento, estejam no céu, não devem ser objeto de culto.

“Não te encurvarás a elas” – Deus proíbe qualquer atitude de reverência ou respeito, tais como inclinar respeitosamente o corpo ou ajoelhar-se diante das imagens; prostrar-se com o rosto no chão; tocá-las; beijá-las; levantar os braços em atitude de adoração; tirar o chapéu; ficar em pé diante delas em estado contemplativo. Enfim, Deus proíbe fazer qualquer gesto com o corpo que expresse admiração, contemplação, fé, devoção, homenagem, reverência.

“Não as servirás” – Não servi-las com flores, velas, cânticos, coroas, festas, procissões, lágrimas, alegria, rezas, vigílias, doações, homenagens, devoção, sacrifícios, incenso. Não lhes devotar fé, confiança, zelo, amor, cuidados. Não alimentar expectativas de receber delas amparo, curas e proteção. Não colocá-las em lugar de destaque, em redoma ou em lugares altos.

A Igreja de Roma reconhece a proibição, mas decide por não acatá-la, como adiante: “O mandamento divino incluía a proibição de toda representação de Deus por mão do homem. O Deuteronômio explica: “Uma vez que nenhuma forma vistes no dia em que o Senhor vos falou no Horebe, do meio do fogo, não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida em forma de ídolo…”(Dt 4.15-16)… No entanto, desde o Antigo Testamento, Deus ordenou ou permitiu a instituição de imagens que conduziriam simbolicamente à salvação por meio do Verbo encarnado, como são a serpente de bronze, a Arca da Aliança e os querubins. Foi fundamentando-se no mistério do Verbo encarnado que o sétimo Concílio ecumênico, em Nicéia (em 787), justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones : os de Cristo, mas também os da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Ao se encarnar, o Filho de Deus inaugurou uma nova “economia “das imagens. O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. De fato, “a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original, e quem venera uma imagem venera a pessoa que nela está pintada. A honra prestada às santas imagens é uma ” veneração respeitosa”, e não uma adoração, que só compete a Deus. O culto às imagens sagradas está fundamentado no mistério da encarnação do Verbo de Deus. Não contraria o primeiro mandamento” (C.I.C. p. 560-562, # 2129-2132, 2141).

Analisando as explicações acima

a) “O mandamento divino INCLUÍA a representação de toda representação de Deus por mãos do homem”.

O mandamento divino incluía? Não, o mandamento inclui, está vigente. A cruz não aboliu as Dez Palavras. As leis cerimoniais sim, foram abolidas. O Decálogo é, no varejo, o que Jesus disse no atacado: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento”, e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.35-40; Deuteronômio 6.5; 10.12; 30.6; Levítico 19.18). Num coração cheio do amor de Deus e do amor a Deus não há espaço para a adoração de pessoas ou de coisas. Em Mateus 5.17, Jesus afirma: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir” (ARC) ou: “Não pensem que eu vim acabar com a Lei de Moisés e os ensinamentos dos profetas. Não vim acabar com eles, mas para dar o seu sentido completo.” (BLH). A seguir Jesus exemplifica o novo sentido à lei: se pensar em matar, já pecou e descumpriu a lei; se pensar em adulterar, já pecou.

b) “No entanto, Deus ordenou… a serpente de bronze, a Arca da Aliança, os querubins”…

A Arca da Aliança e os querubins passaram. Eles faziam parte de cerimônias e símbolos instituídos por Deus, de acordo com sua infinita sabedoria e soberana vontade, para melhor conduzir o povo em sua fé. Agora, vindo Cristo, temos “um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue…” (Hebreus 9.11).

A serpente de bronze – Este símbolo tão zelosamente defendido pela Igreja de Roma foi um remédio específico para um mal específico numa situação especial (Números 21.7-9). Agora, já não precisamos de figuras para nossos males físicos e espirituais. Como disse João Ferreira de Almeida, “o poder vivificante da serpente de metal prefigura a morte sacrificial de Jesus Cristo, levantado que foi na cruz para dar vida a todos que para Ele olharem com fé”. O próprio Jesus assim se manifestou: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.14-15). Deus não recomendou o culto, a homenagem ou a veneração à serpente. Por isso, o rei Ezequias, temente e reto aos olhos do Senhor, destruiu-a ao perceber que o povo lhe prestava culto (2 Reis 18.4). Ademais, não se vê em Atos dos Apóstolos qualquer indício de uso de figuras, ícones ou imagens destinados a facilitar a compreensão e conduzir os fiéis à salvação.

Com relação a símbolos e cerimônias do Antigo Testamento, devemos considerar que em Cristo estamos sob a égide de uma Nova Aliança ou Novo Testamento firmada em Seu sangue (1 Coríntios 11.25). Logo, “dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho e se envelhece perto está de acabar” (Hebreus 8.13). Devemos observar que a ideia de fazer imagens e querubins foi de Deus, e não de Moisés. Com relação a nós, Deus proíbe terminantemente o uso de imagens. É Deus que nos proíbe, que nos condena. Os querubins estavam no propiciatório – espécie de lâmina retangular de ouro – sobre a Arca da Aliança que era guardada no lugar santíssimo do Tabernáculo (Êxodo 25.17-22).O acesso a esse lugar, só uma vez por ano, era restrito ao Sumo Sacerdote (Êxodo 25.17-22; 40.13; Hebreus 9.7). Ao povo não era permitido ver os querubins ou adorá-los. Aos fiéis não foi permitido reproduzir as imagens da serpente e dos querubins para serem veneradas.

c) “… o sétimo Concílio ecumênico, em Nicéia (em 787), justificou… o culto dos ícones : os de Cristo, mas também os da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. De fato, “a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original, e quem venera uma imagem venera a pessoa que nela está pintada. A honra prestada às santas imagens é uma “veneração respeitosa”, e não uma adoração, que só Não contraria o primeiro mandamento”.

Ora, se o mandamento proíbe o culto aos ídolos, então o culto aos ídolos é proibido. Desculpem-me os leitores pelo óbvio. Portanto, o culto às imagens contraria o mandamento. Se contraria, é pecado cultuá-las. O Concílio de Nicéia justificou, mas são justificativas de homens. A Palavra é o padrão. A tradição deverá ajustar-se à Palavra. A honra ao modelo original via imagem parte de uma premissa falsa, porque as imagens não são em sua grande maioria cópias fiéis dos originais, exemplos de Jesus, Maria, José e dos santos apóstolos. Seus traços físicos não foram revelados nem por fotografias nem por pinturas. Jeremias foi direto: “Suas imagens são mentira” (Jr 10.14).

d) “A honra prestada às santas imagens é uma ” veneração respeitosa”, e não uma adoração, que só compete a Deus”.

Venerar: “Tributar grande respeito a; render culto a, reverenciar”; Culto: “Adoração ou homenagem à divindade em qualquer de suas formas, e em qualquer religião”. Adorar: “Render culto a (divindade); reverenciar, venerar, idolatrar” (Dicionário Aurélio). Como se vê, é muito tênue a linha entre honrar, venerar, adorar e prestar culto. Vejamos o que Deus afirma: “Eu sou o Senhor. Este é o meu nome. A minha glória a outrem não a darei, nem a minha honra às imagens de escultura” (Isaías 42.8). Na Bíblia Linguagem de Hoje: Eu sou o Deus Eterno: este é o meu nome, e não permito que as imagens recebam o louvor que somente eu mereço.” Na Bíblia Ecumênica, católica: “Eu sou o Senhor, este é o meu nome: eu não darei a outrem a minha glória, nem consentirei que se tribute aos ídolos o louvor que só a mim pertence”.

Dizer que o culto a Maria e à sua imagem esculpida é apenas uma veneração, não condiz com a realidade. Há um descompasso enorme entre o discurso e a prática. Não pode ser negado o que é público e notório. Maria é realmente adorada como Rainha dos Céus, Senhora, Padroeira, Protetora, Mãe dos Vivos, Mãe da Igreja, Mãe de Deus, etc. E isso constitui pecado. Jesus disse e está escrito em Mateus 4.10: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás”. E o primeiro mandamento diz: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20.3). Maria foi constituída a PROTETORA do Brasil e, especificamente, de muitas cidades brasileiras (Nossa Senhora de Aparecida, Nossa Senhora de Santana, Nossa Senhora do Ó, etc). Parece até que, para os romanistas, a evangelização via Maria se torna mais fácil do que pregando Cristo ressuscitado. Não foi essa a via utilizada pelos apóstolos nas primeiras pregações. Eles não endeusavam os santos, mas apresentavam Jesus, o Santo dos santos, como o único caminho.

Façamos de conta que o culto a Maria e à sua imagem esculpida é apenas uma respeitosa admiração. Ora, essa veneração se manifesta de vários modos, por exemplo: as imagens de Maria são tocadas, beijadas, coroadas; levadas em procissão; diante delas os fiéis se ajoelham, choram e fazem pedidos; imagens da santa, cópias ou originais, percorrem os estados brasileiros para serem homenageadas; são levantadas pelos sacerdotes no altar e os fiéis acenam para elas; são colocadas em redomas nas praças ou em grutas; em muitas casas as imagens são iluminadas continuamente; muitos carregam a imagem em pulseiras, colares, fitas, ou guardam-nas no ambiente de trabalho; ao passar pela imagem, muitos inclinam o corpo ou tiram o chapéu, etc.

Pergunta-se o seguinte: se essas práticas não constituem adoração e idolatria, o que mais deveria ser feito, qual prática deveria ser adicionada às já existentes, o que os fiéis romanistas deveriam fazer além de tudo que fazem para então se configurar uma adoração e uma idolatria? O que mais deveriam fazer?

Outras referências (Os destaques são meus)

“Não fareis para vós ídolos, nem para vós levantareis imagem de escultura nem estátua, nem poreis figura de pedra na vossa terra para inclinar-vos diante dela. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Levítico 26.1).

“No dia em que o Senhor vosso Deus falou convosco em Horebe, do meio do fogo, não vistes figura nenhuma. Portanto, guardai com diligência as vossas almas, para que não vos corrompais, fazendo um ídolo, UMA IMAGEM DE QUALQUER TIPO, FIGURA DE HOMEM OU DE MULHER…” (Deuteronômio 4.15-16). “As imagens de escultura de seus deuses queimarás no fogo. Não cobiçarás a prata nem o ouro que haja nelas, nem os tomarás para ti, para que não sejas iludido, pois É ABOMINAÇÃO AO SENHOR, TEU DEUS” (Deuteronômio 7.25).

“As suas imagens de fundição são vento e nada” (Isaías 41.29b)

“Eu sou o SENHOR; este é o meu nome! A minha glória a outrem não a darei, nem o meu louvor às imagens de escultura” (Isaías 42.8)

“Todo homem se embruteceu e não tem ciência; envergonha-se todo fundidor da sua imagem de escultura, porque sua imagem fundida é mentira, e não há espírito nela” (Jeremias 10.14). “Arrancarei do meio de ti as tuas imagens de escultura e as tuas estátuas; e tu não te inclinarás mais diante da OBRA DAS TUAS MÃOS” (Miquéias 5.13).

“Também está cheia de ídolos a sua terra; inclinaram-se perante a OBRA DAS SUAS MÃOS, diante daquilo que fabricaram os seus dedos” (Isaías 2.8).

“Nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar” (Isaías 45.20). “Mas o nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz. Os ídolos deles são prata e ouro, OBRA DAS MÃOS DOS HOMENS. Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não veem; têm ouvidos, mas não ouvem; nariz têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e todos os que neles confiam” (Salmos 115.3-8).

“Eles trocam a verdade de Deus pela mentira e ADORAM E SERVEM O QUE DEUS CRIOU, em vez de adorarem e servirem o próprio Criador, que deve ser louvado para sempre. Amém” (Romanos 1.25). Anjos e espíritos humanos são criaturas de Deus.

“Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 João 5.21).

A proibição divina abrange:

a) Qualquer coisa (estátua, imagem, ídolo, presépio) produzida por mãos humanas para ser objeto de veneração, adoração, culto ou louvor.

b) Imagens de toda a criação de Deus (anjos, pessoas, espíritos humanos, corpos celestes, animais) com o mesmo objetivo.

c) Imagens de qualquer uma das três Pessoas da Trindade.

Estão, portanto, em desacordo com o Segundo Mandamento cultos de louvor, adoração, homenagem ou veneração prestados às imagens representativas de pessoas falecidas, qualquer que tenha sido o grau de santidade que tenham alcançado na vida terrena.

OS ARGUMENTOS CONTRÁRIOS

A seguir, analisemos alguns dos argumentos dos que defendem o culto a Maria e os títulos a ela atribuídos.

1) “Todas as gerações me chamarão bem-aventuradas” (Lucas 1.48). Esta declaração é apresentada como justificativa ao culto a ela prestado. Contestação – Segundo o Dicionário Aurélio, “bem-aventurado” quer dizer muito feliz. É também a situação “daquele que, depois da morte, desfruta da felicidade celestial e eterna”. É sinônimo de santo. Jesus chamou de bem-aventurados os pobres de espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores, e os que sofrem perseguição por causa da justiça (Mateus 5.3-10). Em Salmos 112.1, lemos: “Bem-aventurado o homem que tema ao Senhor, em seus mandamentos tem grande prazer”. Em Apocalipse 20.6: “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição”. Jesus disse: “bem-aventurado és tu, Simão Barjonas [Pedro], pois não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus” (Mateus 16.17). Outras referências: Salmos 1.1; 2.12; 32.1; 106.3; 119.1; 146.5; Mateus 24.46; Apocalipse 22.7. Como se vê, bem-aventurados somos todos nós que seguimos a Jesus. Todavia, tal felicidade não nos confere o direito de sermos adorados ou cultuados, quer em vida, quer na morte. A bem-aventurança que asseguramos em vida, pela aceitação do senhorio de Jesus, se estende por toda a eternidade. O fato de a santa Maria haver sido chamada de bem-aventurada não significa uma doutrina, mandamento ou ensino para lhe prestarmos culto. Note-se que Isabel, sua prima, declarou que Maria era “bendita entre as mulheres” (Lucas 1.48), e não “bendita acima das mulheres”.

2) “Fazei tudo o que ele vos disser” (João 2.5). Esta palavra de Maria tem sido muito usada pelos romanistas para justificar a crença da intermediação entre Maria e Jesus. A partir daí, ensinam que o Filho jamais negará um pedido de sua mãe.

Contestação – Não vejo aí nenhum motivo para colocar Maria na posição de mediadora a quem Jesus atenderá sempre. Se a declaração fosse de Jesus, ordenando que os serviçais obedecessem à sua mãe, até que poderíamos refletir melhor. Mas não foi assim. Maria, vendo que Jesus estava disposto a operar o milagre da transformação da água em vinho, disse aos empregados que seguissem à risca suas instruções. Só isso e nada mais do que isso. Se o desejo é espiritualizar a fala de Maria e trazê-la para os dias atuais, nada melhor do que obedecermos a vontade de Jesus, que disse: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás”. (Mateus 4.10). Logo, por este mandamento, Maria está excluída de qualquer espécie de adoração e culto.

Portanto, atendendo a Maria, façamos o que Jesus ordenou.

Observemos também que a santa Maria, ao transferir o problema para Jesus, mostrou-se incapacitada de operar qualquer milagre. A “Mãe de Deus” não teria poderes para transformar água em vinho? Naquela época ela ainda não era mãe de Deus? Só passou a sê-lo após sua morte?

3) Maria é a nossa mãe espiritual, porque Jesus a entregou aos cuidados de João.

Contestação – Jesus, já prestes a falecer, disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho”. E ao discípulo a quem amava, disse: “Eis aí tua mãe”. “E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa” (João 19.26-27). Em resumo, Jesus entregou sua mãe aos cuidados do querido discípulo João. Jesus deu exemplo de amor filial, lembrando-se de sua mãe num momento de grande agonia. A intenção dele não foi elevar sua mãe à posição de mãe espiritual da humanidade. Desejou apenas que ela não ficasse desamparada na sua velhice. Se agiu assim, havia motivos para que o amparo de sua mãe não ficasse confiado apenas aos seus irmãos mais jovens (Mateus 13.55-56).

4) Maria é mãe de Deus porque Jesus é Deus e ela é mãe de Jesus Contestação – Se válido esse raciocínio, poderíamos afirmar que Deus é filho de criação ou filho adotivo de José. Ou José seria padrasto de Deus? Maria foi um instrumento usado por Deus, na consecução do Seu plano de salvação para o homem. Nessa concepção, ela foi mãe do Jesus homem, mas nunca o foi do Verbo Eterno, do Deus Filho. Como Pessoa da Trindade, Jesus sempre existiu.

Veja. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (João 1.1,14). “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que enviou o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). “Porque Deus ENVIOU seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3.17). Esses versículos falam da divindade de Jesus e, claro, da Sua eternidade. O Verbo que é Deus não se originou em Maria, mas em Maria se fez carne. A criatura não pode ser mãe do Criador, do Senhor e Juiz dos vivos e dos mortos. O finito não pode gerar o infinito. Aquela que foi criada não pode gerar o incriado.

5) Maria, na qualidade de mãe de Jesus, é co-redentora

Contestação – A palavra de Deus não eleva Maria à condição de igualdade com o nosso Salvador. O Redentor é Jesus, e como tal Ele foi esperado: E virá um redentor a Sião e aos que se desviarem da transgressão em Jacó, diz o Senhor” (Isaías 59.20). Não se lê que paralelamente viria uma Redentora ou uma ajudante-do-Redentor ou uma co-Redentora. A santa Maria não recebeu a mesma missão de Jesus, tal como definido em Lucas 4.18 e Isaías 61.1-2. Ademais, Maria não poderia ser salvadora e ao mesmo tempo precisar de salvação. Leiam mais uma vez: “Disse, então, Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, MEU SALVADOR, porque atentou na humildade de sua SERVA…” (Lucas 1.46-48, com realce de minha parte). Já o nosso Salvador Jesus Cristo nunca se dirigiu ao Pai declarando-se necessitado de salvação. Quando a santa Maria fez esta oração, com plena convicção e segurança, ela igualou-se a todos os homens e mulheres herdeiros da natureza pecaminosa originada na desobediência de Adão e Eva. Nivelou-se a todos os mortais. Jesus não pensava diferente. Quando alguém lhe disse que sua mãe e seus irmãos “estão lá fora e querem falar-te”, Ele respondeu: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, estendendo a mão para os discípulos, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mateus 12.47-50). Em Lucas 8.21, a resposta de Jesus está assim: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a executam” (veja também Marcos 3.35). Somente são membros da família de Deus os que ouvem e obedecem a Palavra de Deus. Jesus ressaltou aqui a necessidade de fé obediente, necessidade esta a que estavam sujeitos, também, sua mãe e seus irmãos. “Quando recebeu o recado do lado de fora, Jesus respondeu de uma maneira que não desprestigia, nem por um momento, a santidade das relações familiares. Ele asseverou que os laços que unem espiritualmente a família de Deus são mais seguros e mais preciosos, pois se baseiam na obediência à vontade divina” (O Novo Comentário da Bíblia, 1990, Edições Vida Nova). A Trindade é soberana, autossuficiente, onipresente, onisciente, onipotente, imutável e eterna Não precisa, portanto, do auxílio de santos falecidos para executar seu plano de redenção. Na história contada por Jesus, conforme Lucas 16.19-31, os santos Lázaro e Abraão não se sentiram em condições de prestarem qualquer assistência aos irmãos do rico, que estava em tormentos. Abraão não acenou nem com a hipótese interceder por eles, mas indicou o caminho mais seguro: ouvir a Palavra de Deus. Ouvir e obedecer. Obedecer e permanecer.

6) Veneramos a imagem de Maria como alguém que venera os retratos de familiares falecidos.

Contestação – Esse argumento é um dos mais ingênuos. Ninguém em sã consciência adota os seguintes procedimentos com relação às fotografias de seus familiares falecidos: não as carrega em procissão; não canta louvores diante delas; não se ajoelha aos seus pés, nem na sua presença faz inclinação com o corpo em sinal de reverência; não faz qualquer pedido a esses mortos, salvo se numa sessão espírita; não usa essas fotos como amuletos, para alcançar algum benefício espiritual ou material. Por isso, o uso que fazemos dos retratos de entes queridos é completamente diferente do uso que os católicos fazem das imagens dos santos.

7) “Entrando o anjo disse-lhe: ‘Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lucas 1.28).

Diz a Tradição: “Eis aqui, proclamado pelo próprio anjo Gabriel o privilégio extraordinário da Imaculada Conceição de Maria e sua santidade perene. Quando a Igreja chama Maria de “Imaculada Conceição” quer dizer que a mesma, desde o momento de sua concepção foi isenta – por graça divina – do pecado original. Se Maria Santíssima tivesse sido gerada com o pecado herdado de Adão ou tivesse qualquer pecado pessoal, o Arcanjo Gabriel teria mentido chamando-a de “cheia de graça”. Pois, onde existe esta “graça transbordante” não pode coexistir o pecado” (Extraído de um site de apologética católica).

Contestação – Somente nas traduções católicas romanas lê-se “Salve, cheia de graça”, para Lucas 1.28. A interpretação mais correta é “Salve, muito favorecida” ou “Salve agraciada”.

Maria “achou graça diante de Deus” (Lucas 1.30). É bom lembrar que a graça de Deus se derrama sobre todos os santos – os salvos em Cristo – de forma abundante: “Deus é poderoso para tornar abundante em vós toda graça…” (2 Coríntios 9.8), porque “a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo” (Efésios 4.7). “Porém, onde abundou o pecado, a graça transbordou” (Romanos 5.20).

A santa Maria não possui graça em si mesma. A graça foi trazida por Jesus (Jo 1.17; Rm 3.24; Tt 2.11). Ela é digna do nosso respeito, sim, mas somente o Filho é digno da nossa adoração.

Maria não entendeu que a saudação do anjo a colocaria na situação de IMACULADA, como pensam os romanistas. Por isso, na sua humildade ela clamou por salvação, assim: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, MEU SALVADOR, porque atentou na humildade de sua serva; pois eis que, desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada” [feliz] (Lucas 1.46-48).

8 – Por que os católicos cultuam Maria e os Santos, quando está escrito que Jesus é o único Mediador?

Diz a Tradição: “Realmente, São Paulo afirma em sua primeira epístola a Timóteo (2.5), que “há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens que é Jesus Cristo”. Essa afirmação não exclui que possa haver outros mediadores secundários, pois o próprio Apóstolo dos Gentios é o primeiro a pedir a intercessão de outros junto a Deus. Assim, diz aos romanos: “Rogo-vos, pois, irmãos, por Nosso Senhor Jesus Cristo, e pelo amor do Espírito Santo, que me ajudeis com as vossas orações por mim a Deus” (Rm 15.30).

Contestação – Se a Palavra diz que só há um Mediador é porque só há um Mediador. A afirmação exclui a possibilidade de haver outros mediadores. Os exemplos citados se referem a vivos intercedendo por vivos, e não vivos pedindo a intercessão de pessoas falecidas. Este procedimento mais se apropria ao espiritismo.

9 – “Com relação à expressão “Filho primogênito”, cumpre ressaltar, diz a Tradição, que entre os orientais (até mesmo hoje em dia em vários países) o primeiro filho nascido de um matrimônio tinha uma ascendência moral sobre todos os outros irmãos e irmãs que viessem a nascer. Assim se ressaltava que era o primogênito, ainda que ele viesse a ser o filho único. Por isso vê-se aparecer frequentemente nas Sagradas Escrituras a expressão “primogênito”: “todo o primogênito do sexo masculino será meu” (Ex 34, 19-20); “Resgatarás o primogênito dos teus filhos: e não aparecerás na minha presença com as mãos vazias” (Num 18, 15). A expressão “filho primogênito” em São Lucas é entendida assim, e o foi pela Tradição oral durante quase um milênio e meio, até surgir Lutero, que “descobriu” esse detalhe para tentar “provar” que Maria não permaneceu virgem”.

Contestação – A questão do filho primogênito. O dicionário Aurélio diz. “Primogênito: Que ou aquele que foi gerado antes dos outros. Que ou o que é o filho mais velho”. Vejamos os exemplos bíblicos: (a) Gn 27.19: “Jacó disse: eu sou Esaú, teu primogênito”. A palavra aqui está no sentido próprio, como aquele que nasceu em primeiro lugar, o primeiro dentre outros. (b) Êx 22.29: “O primogênito de teus filhos me darás”. Ou seja: o primeiro dos filhos (veja Ex 34.20); (c) Nm 3.40: “Conta todo primogênito varão dos filhos de Israel”; (d) 1 Rs 16.34: “Em seus dias, Hiel, o betelita, edificou a Jericó; morrendo Abirão, seu primogênito, a fundou: e, morrendo Segupe, seu último, pôs as suas portas”. Segupe foi o filho mais novo de Hiel, e Abirão, o primogênito, ou seja, o primeiro. (e) Rm 8.29: … “o primogênito entre muitos irmãos”. Não se pode aludir, então, que a Bíblia quando fala em PRIMOGÊNITO está falando de filho único. O primogênito pode ser o único, se não vierem outros, mas no caso de Maria, não foi assim. A Bíblia registra que Jesus teve outros irmãos. Logo, acertadamente o evangelista Lucas registrou: “E deu à luz o seu filho PRIMOGÊNITO…”. Quando este evangelho foi escrito (60-63 d.C.) Maria já havia dado à luz outros filhos (Mt 13.55-56).

10 – “Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida de sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12.1) Extraímos os seguintes comentários de uma página de apologética católica:

“No Apocalipse, João contempla nesta visão três verdades: a Assunção de Nossa Senhora, sua glorificação, sua maternidade espiritual. O Apocalipse descreve que esta mulher “estava grávida e (…) deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações…” (Ap 12.2,5).

Qual mulher, que de fato, esteve grávida de Jesus senão a Santíssima Virgem? (cf. Is 7.14 ). Outros contestam, dizendo que esta mulher é símbolo da Igreja nascente. Mas, a Igreja nunca esteve “grávida” de Jesus Cristo! Antes, foi Cristo que gerou a Igreja, foi ele que a estabeleceu e a sustenta. E para provar que esta mulher é exclusivamente Nossa Senhora, em outro lugar está escrito: “O Dragão vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino” (Ap 12.13 ). A Igreja teria dado à luz a um Menino? Evidente que não! Portanto esta mulher refulgente é unicamente, Nossa Senhora, pois foi ela unicamente que gerou “o menino” prometido (cf. Is 9.5). Diz ainda a Sagrada Escritura que: “(o Dragão) deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz (…) para lhe devorar o Filho (…) A Mulher fugiu para o deserto, onde (…) foi sustentada por mil duzentos e sessenta dias” (AP 12.4, 6). De fato, o demônio maquinou contra a vida de Jesus desde seu nascimento, na pessoa do perseguidor Herodes. Maria fugiu então com o filho para o deserto (Egito). Lá ficou por aproximadamente mil e duzentos e sessenta dias (três anos e meio). Ou seja, do ano 7 AC, ano do nascimento de Jesus, conforme atualmente se acredita, até março-abril do ano 4 AC, ano da morte de Herodes. Perfazendo os três anos e meio de exílio, nos quais foi sustentada pela Providência…” Contestação – Vejamos o que diz a palavra oficial da Igreja Católica, contrapondo-se ao que acima foi dito:

1) “A cena corresponde a Gn 3.15-16. A mulher dá a luz na dor (v.2) aquele que será o Messias (v.5). Ela é tentada por Satanás (v.9; cf. 20.2) que a persegue, bem como a sua descendência (vv. 6,13,17). ELA REPRESENTA O POVO SANTO dos tempos messiânicos (Is 54;60;66.7; Mq 4.9-10) e portanto a Igreja em luta. É possível que João pense também em Maria, a nova Eva, a filha de Sião, que deu nascimento ao Messias (cf.Jo 19.25+)”. (Realce acrescentado. Comentários de A Bíblia [católica] de Jerusalém, Soc. Bíblica Católica Internacional e Paulus).

2) “Uma mulher: NÃO É O SÍMBOLO DA SS. VIRGEM, mas sim o do Povo de Deus, primeiro Israel, que deu ao mundo Jesus Cristo segundo a carne e depois o “Israel de Deus”, i.e. a Igreja que enfrentaria as perseguições do Dragão. O sol, a lua e as estrelas são apenas figuras para expressar seu esplendor. POR ACOMODAÇÃO A IGREJA APLICA ESTE V. À SS. VIRGEM” (Realce acrescentado. Comentários da Bíblia [católica] Sagrada, tradução do padre Antônio Pereira de Figueiredo, com notas do Monsenhor José Alberto L. de Castro Pinto, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, 1964).

Comentários – 1) A contestação aos argumentos iniciais é dada pela própria Igreja Católica. Ou o Vaticano mudou de ideia e agora admite que Maria é a “mulher revestida de sol”, ou está havendo um descompasso entre o que essa Igreja ensina e o que seus fiéis aprendem. Ao final dos comentários 1 e 2 acima, nota-se uma tentativa de forçar uma interpretação que reforce a justificativa do culto a Maria. As expressões “é possível que João pense” e “por acomodação a Igreja” estão fora de sintonia com o restante do enunciado, onde lemos a afirmação categórica de que a “mulher” de Apocalipse 12 nada tem a ver com a santa Maria.

2) Em linhas gerais, a palavra oficial da Igreja Católica não difere da dos evangélicos. Vejam: “Esta mulher [de Ap 12.1] simboliza os fiéis de Israel, através dos quais o Messias (i.e., o menino Jesus, vv.2,4,5) veio ao mundo (cf. Rm 9.5). Isso é indicado não somente pelo nascimento do menino, mas também pela referência ao sol e à lua (ver Gn 37.9-11) e às doze estrelas, que naturalmente se referem às doze tribos de Israel”. “Ap 12.6 A mulher fugiu – Aqui, a mulher simboliza os fiéis de Israel na última parte da tribulação (cf.os 1260 dias, metade exata do período da tribulação). Durante a tribulação, esses fiéis de Israel, judeus tementes a Deus, opor-se-ão à religião do Anticristo. Examinando com sinceridade as Escrituras, eles aceitam a verdade de que Jesus Cristo é o Messias (Dt 4.30,31; Zc 13.8,9). São socorridos por Deus durante os últimos três anos e meio da tribulação, e Satanás não poderá vencê-los (ver vv.13-16, de Ap 12). Quem de Israel aceitar a religião do Anticristo e rejeitar a verdade bíblica do Messias será julgado e destruído nos dias da grande tribulação (ver Is 10.21-23;Ez 11.17-21; 20.34-38; Zc 13.8,9)” (Bíblia de Estudo Pentecostal, João Ferreira de Almeida, Revista e Corrigida, 1995).

OS IRMÃOS DE JESUS

Os “irmãos de Jesus”, de que fala a Bíblia, seriam apenas seus primos? José continuou sem conhecer sua esposa mesmo depois do nascimento de Jesus? O que dizem os comentaristas nas bíblias aprovadas pela Igreja Católica? É admissível supor que os irmãos de Jesus, que não criam nele, fossem seus apóstolos? Tentaremos encontrar respostas para essas indagações. Usaremos as seguintes versões bíblicas:

(a) A BÍBLIA DE JERUSALÉM, Paulus Editora, 1973, 8a impressão em janeiro/2000, rubricada em 1.11.1980 por Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. O trabalho de tradução foi “realizado por uma equipe de exegetas católicos e protestantes e por um grupo de revisores literários”. Nas referências, será assim mencionada: Bíblia de Jerusalém.

(b) BÍBLIA SAGRADA, Edição Ecumênica, tradução do padre Antônio Pereira de Figueiredo; notas e dicionário prático pelo Monsenhor José Alberto L. de Castro Pinto, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro; edição aprovada pelo cardeal D. Jaime de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro; BARSA, 1964. Nas referências, será designada assim: Bíblia [católica] Sagrada.

(c) BÍBLIA APOLOGÉTICA, João Ferreira de Almeida, Corrigida e Revisada, ICP Editora, 2000, notas do Instituto Cristão de Pesquisas. Será assim indicada: Bíblia Apologética.

(d) BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, Almeida, revista e corrigida, Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), 1995. será referida: Bíblia de Estudo Pentecostal.

Inicialmente, veremos os versículos que falam dos “irmãos de Jesus”, extraídos da Bíblia [católica] de Jerusalém:

“Não é ele o filho do carpinteiro? E não se chama a mãe dele Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde então lhe vêm todas essas coisas? E se escandalizavam dele. Mas Jesus lhes disse: “Não há profeta sem honra, exceto em sua pátria e em sua casa” (Mateus 13.55-58; Marcos 6.3-6).

“Estando ainda a falar às multidões, sua mãe e seus irmãos estavam fora, procurando falar-lhe. Jesus respondeu àquele que o avisou: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” E apontando para os discípulos com a mão, disse: “Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos, porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe”. (Mateus 12.46-50; Marcos 3.32-35; Lucas 8.19-21).

“Depois disso, desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos, e ali ficaram apenas alguns dias”. (João 2.12).

“Aproximava-se a festa judaica das Tendas. Disseram-lhe, então, os seus irmãos: ‘Parte daqui e vai para a Judéia, para que teus discípulos vejam as obras que fazes, pois ninguém age às ocultas, quando quer ser publicamente conhecido. Já que fazes tais coisas, manifesta-te ao mundo!’ Pois nem mesmo os seus irmãos criam nele”(João 7.2-5).

“Tendo entrado na cidade, subiram à sala superior, onde costumavam ficar. Eram Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, o Zelota; e Judas, filho [nota de Sola Scriptura-TT: o correto é “irmão de”, em itálicas] de Tiago. Todos estes, unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (Atos 1.13-14). Comentários da Bíblia de Jerusalém: “O apóstolo Judas é distinto de Judas, irmão de Jesus (cf. Mt 13.55; Mc 6.3) e irmão de Tiago (Judas 1). Não se deve também, parece, identificar o apóstolo Tiago, filho de Alfeu, com Tiago, irmão do Senhor (At 12.17; 15.13, etc)”.

“Não temos o direito de levar conosco, nas viagens, uma mulher cristã, como os outros apóstolos e os irmãos do Senhor e Cefas?” (1 Coríntios 9.5).

“Em seguida, após três anos, subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas e fiquei com ele quinze dias. Não vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor. Isto vos escrevo e vos asseguro diante de Deus que não minto” (Gálatas 1.18-20). Comentários da Bíblia de Jerusalém: “Outros traduzem: “a não ser Tiago”, supondo que Tiago faça parte dos Doze e se identifique com o filho de Alfeu (Mt 10.3p), ou tomando “apóstolo” em sentido lato (cf.Rm 1.1+)”.

A Igreja Católica assim se manifestou em seu Catecismo:

“A isto objeta-se por vezes que a Escritura menciona irmãos e irmãs de Jesus. A Igreja sempre entendeu que essas passagens não designam outros filhos da Virgem Maria: Com efeito, Tiago e José, “irmãos de Jesus” (Mateus 13.55), são os filhos de uma Maria discípula de Cristo (Mateus 27.56), que significativamente é designada como “a outra Maria” (Mateus 28.1). Trata-se de parentes próximos de Jesus, consoante uma expressão conhecida do Antigo Testamento (Gênesis 13.8; 14.16; 29.15, etc.)” (Catecismo da Igreja Católica, p. 141. # 500).

De uma página de apologética católica na Internet colhemos a seguinte explicação extraoficial: “São Lucas esclarece que Tiago e Judas eram filhos de Alfeu ou Cléofas (Lucas 6.15-16). Portanto o eram também José e Simão. Mas não Jesus, que sabemos era filho de “José, o carpinteiro”.

Portanto, não poderiam ser irmãos carnais. Por outro lado, São Mateus dá o nome da mãe deles: “Entre as quais estava… Maria, mãe de Tiago e de José” (Mateus 27.56). Não se pode confundir esta Maria com sua homônima, esposa de José, o carpinteiro. São João deixa bem clara essa distinção: “Junto à cruz de Jesus estava sua mãe e a irmã (prima) de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas” (João 19.25), cuja filha se chamava Maria Salomé. São as bem conhecidas “três Marias”. Aliás, atualmente os protestantes mais cultos já nem levantam mais essa objeção”.

Vejamos agora quais as “Marias” citadas nos evangelhos (Bíblia [católica] de Jerusalém):

Na crucificação

“Estavam ali muitas mulheres, olhando de longe. Haviam acompanhado Jesus desde a Galiléia, a servi-lo. Entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu” (Mt 27.56).

“E também ali estavam ali algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé” (Mc 15.40). Comentário da referida Bíblia:

“Provavelmente, [Salomé] é a mesma que Mt 27.56 denomina a mãe dos filhos de Zebedeu”.

“Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena” (Jo 19.25). Comentários da referida Bíblia, referindo-se “a irmã de sua mãe”: “Ou se trata de Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu (cf. Mt 27.56p) ou, ligando essa denominação ao que se segue, “Maria, mulher de Clopas”.

Na ressurreição

“Após o sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria vieram ver o sepulcro” (Mt 28.1). Comentário da referida Bíblia sobre a “outra Maria”: “Isto é, “Maria [mãe] de Tiago” (Mc 16.1; Lc 24.10; cf. Mt 27.56)”.

“Passado o sábado, Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ir ungi-lo” (Mc 16.1-2).

“Eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago” (Lc 24.10),

Vejamos agora quais os “Tiagos” citados nos evangelhos, conforme consta do Dicionário na parte final da Bíblia [católica] Sagrada, item “b” retro:

1. Tiago – “O Maior (mais velho), filho de Zebedeu e Salomé e irmão de São João Evangelista (Mt 4.21). era de Betsaida na Galiléia, pescador (Mc 1.19) e companheiro de São Pedro como seus irmãos (Lc 5.10).”

2. Tiago – “O Menor (mais moço), filho de Alfeu ou Cléofas (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13) e de Maria (Jo 19.25). Foi chamado “irmão do Senhor” (Gl 1.19), no sentido semita [relativo aos judeus] que tem essa palavra que pode se aplicar aos primos e outros consanguíneos em linha colateral mais afastados, e até mesmo aos simples conacionais. Tiago Menor era primo de Jesus por ser sobrinho de S. José. N. Senhor apareceu-lhe uma semana depois da Ressurreição (1 Co 15.7). Foi o primeiro bispo de Jerusalém depois da dispersão dos Apóstolos. O fato de Paulo o ter procurado (Gl 1.19) e de ter ele feito o discurso final no Concílio de Jerusalém parece provar isto (At 15.13) Foi morto no Templo por instigação do sumo Sacerdote Anás II, tendo sido lançado de uma galeria e espancado até à morte (62 depois de Cristo)”.

3. Epístola de S. Tiago – “Uma das epístolas católicas atribuída a São Tiago, o menor…”

Vejamos agora quais os “Judas” citados nos evangelhos, segundo Dicionário da Bíblia [católica] Sagrada, item “b” retro:

1. Judas – “Habitante de Damasco que hospedou S.Paulo (At 9.11)”.

2. Judas Iscariotes – “O Apóstolo que traiu N. Senhor (Mt 10.4; Mc 3.19; Lc 6.16). Iscariot quer dizer “homem de Cariot”, aldeia de Judá”.

3. Judas Tadeu – “Um dos doze apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.16; Jo 14.22). É o irmão de Tiago o Menor e “irmão”, isto é, primo do Senhor (At 1.13); Mt 13.55; Mc 6.3)”.

4. Epístola de S. Judas Tadeu – Um dos livros canônicos do Novo Testamento, classificado entre as chamadas “Epístolas Católicas”. [Nota de Sola Scriptura-TT: a epístola foi escrita por Tiago, o irmão de Jesus]

A partir dessas informações surgem algumas indagações:

Primeiro – Os apóstolos Tiago (o Menor) e Judas (Tadeu) são os mesmos chamados de “irmãos de Jesus” em Mateus 13.55 e Marcos 6.3? Que dizem as bíblias católicas retrocitadas?

O que vimos foram interpretações discordantes. A Bíblia de Jerusalém diz nos comentários sobre Atos 1.13 que “o apóstolo Judas é distinto de Judas, irmão de Jesus”, isto é, não são a mesma pessoa, ou seja, o apóstolo Judas é uma pessoa e o irmão de Jesus, com idêntico nome, é outra pessoa. No mesmo passo, diz que o apóstolo Tiago, filho de Alfeu, não é o mesmo Tiago, irmão do Senhor. Reiterando a sua posição, referida Bíblia afirma nos comentários sobre Gálatas 1-18-20: “Outros traduzem: “a não ser Tiago”, supondo que Tiago faça parte dos Doze e se identifique com o filho de Alfeu (Mt 10.3p), ou tomando “apóstolo” em sentido lato (cf. Rm 1.1+)”.

Por outro lado, a Bíblia Sagrada, católica, como discriminada no início deste trabalho, assume posição diferente. O dicionário que compõe essa Bíblia diz que “Tiago, o Menor, filho de Alfeu ou Cléofas (Mt 19.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13) e de Maria (Jo 19.25), foi chamado “irmão do Senhor”. Diz mais que “Tiago Menor era primo de Jesus por ser sobrinho de S.José”.

Confirmando, diz que “Judas Tadeu, um dos apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18…) é o irmão de Tiago, o Menor, e “irmão”, isto é, primo do Senhor (At 1.13; Mt 13.55; Mc 6.3)”. O descompasso é lamentável, a menos que se configure aí o “livre-exame” – situação em que comentaristas ou exegetas católicos interpretam livremente os textos bíblicos sem guardar coerência com a cúpula do Vaticano.

No particular, concordo plenamente com a Bíblia [católica] de Jerusalém. Os irmãos de Jesus (Mt 13.55 e Mc 6.3, etc.), não foram apóstolos ou mesmo discípulos, pelo seguinte:

a) Os irmãos de Jesus não criam nEle. No registro de João 7.2-5 nota-se claramente essa incredulidade. Entende-se, também, que Jesus evitou a companhia deles nesse episódio (Jo 7.8-10). Ao dizerem “para que teus discípulos vejam as obras que fazes” seus irmãos se excluíram do rol dos seguidores de Jesus. Ademais, Jesus não iria escolher para apóstolo alguém que não cria nEle.

b) A Bíblia estabelece distinção entre ser discípulo e ser irmão de Jesus (Jo 2.12; At 1.13-14; 1 Co 9.5; Gl 1.18-20). Por exemplo, em certa ocasião Jesus estava com seus discípulos em determinado local, e lá fora estavam sua mãe e seus irmãos (Mt 12.46-50; Mc 3.32-35; Lc 8.19-21).

Segundo – A tia de Jesus – irmã de sua mãe Maria – era Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu, ou era Maria, mulher de Cléofas?

Vejamos mais uma vez o que relata João 19.25: “Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena”.

A frase como está admite duas interpretações. A primeira é a de que “a irmã de sua mãe” é uma pessoa, e Maria, mulher de Cléofas, outra. A segunda hipótese é a de que o nome da tia de Jesus é Maria, a mulher de Cléofas. A Bíblia [católica] de Jerusalém concorda comigo quando diz: “Ou se trata de Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu (Mt 27.56) ou, ligando essa denominação ao que se segue, “Maria, mulher de Clopas”.

A Bíblia Sagrada, edição católica, afirma no seu “dicionário” que:

“Maria de Cléofas” é irmã da SS. Virgem Maria, i.e. sua prima, pois em hebraico a palavra tem um sentido mais lato. Segundo uns seria a mãe de Tiago (o menor), José, Simão e Judas Tadeu e esposa de Cléofas também chamado Alfeu (Mt 27.56; Mc 3.18; 6;3; 15.40). Segundo outros são duas pessoas com o mesmo nome, uma, irmã de S. José, seria a esposa de Alfeu e mãe de Tiago Menor e José; e a outra seria cunhada de S. José por ser casada com Cléofas, irmão de S. José, e seria a mãe de Simão e Judas Tadeu. Como quer que seja, uma Maria de Cléofas e uma Maria, mãe de Tiago, aparecem nos Evangelhos como tendo acompanhado o Senhor até o Gólgota e preparado os aromas… (Jo 19.25; Lc 24.10; Mt 28.9)”.

Terceiro – De quem seriam filhos os irmãos de Jesus?

Não eram filhos de Zebedeu e de sua provável mulher Salomé, porque os filhos destes eram João e Tiago (Mt 4.21). Ora, os irmãos de Jesus foram Tiago, José, Simão e Judas, afora algumas irmãs (Mt 13.55-56, Mc 6.3). João está excluído dessa relação. Além disso, os irmãos de Jesus não criam nEle (Jo 7.5). Logo, João, apóstolo, não foi seu irmão. Não eram filhos de Maria, mulher de Alfeu ou Cléofas, cujo filho Tiago, o menor, foi apóstolo (Mt 10.3; Mc 15.40), e como tal não poderia ser irmão de Jesus, porque estes não criam nEle (Jo 7.5). Ademais, não consta que Tiago, José, Simão e Judas, irmãos do Senhor, fossem filhos do referido casal.

A Bíblia [católica] de Jerusalém é de parecer semelhante quando diz: “O apóstolo Judas é DISTINTO de Judas, irmão de Jesus (cf. Mt 13.55; Mc 6.3) e irmão de Tiago (Judas 1). Não se deve também, parece, IDENTIFICAR o apóstolo Tiago, filho de Alfeu, com Tiago, irmão do Senhor (At 12.17; 15.13, etc)”. Realce acrescentado. Contrapondo-se, a outra Bíblia, católica, diz que Judas, apóstolo, é o irmão de Tiago o menor e “irmão”, isto é, primo do Senhor (Mt 13.55; Mc 6.3). Ou seja, Tiago e Judas, eram ao mesmo tempo irmãos (ou primos) e apóstolos.

Se os irmãos de Jesus não eram filhos de Zebedeu, nem o eram de Alfeu, seria da tia de Jesus, não devidamente identificada em João 19.25? Não pode ser porque essa tia de Jesus já foi devidamente identificada pelo catolicismo, ao dizer que ou se chamava Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu, ou era Maria, mulher de Cléofas.

Vamos agora ler o que dizem outros comentaristas a respeito dos irmãos de Jesus.

IRMÃOS DO SENHOR – “Aqueles de quem se fala em Mateus 12.46 e 13.55, e outros lugares, como irmãos de Jesus, seriam filhos de José e Maria? Segundo uma opinião que já vem do segundo século pelo menos, esses “irmãos de Jesus” eram filhos de um primeiro matrimônio de José. Mais tarde foram, por alguns críticos considerados primos do nosso Salvador. Podem, contudo, ter sido filhos de José e Maria. Em todas as passagens, menos uma, em que esses irmãos de Jesus são mencionados nos Evangelhos, acham-se associados com Maria. Se eram eles filhos mais velhos de José, não seria então Jesus o herdeiro do trono de Davi, segundo as nossas noções de primogenitura. Eles não acreditavam em Jesus no princípio da Sua missão, e até, segundo parece (Jo 7.5), depois que os apóstolos foram escolhidos; e por essa razão eles não puderam ser do número dos Doze, dos quais, na verdade, eles particularmente se distinguem, quando num período posterior são vistos na companhia deles (At 1.14). Não devem, portanto, ser confundidos com os filhos de Alfeu, embora tenham os mesmos nomes. Além disso, as palavras “filho” e “mãe”, sendo empregadas nesta passagem (Mt 13.55) no seu natural e principal sentido, semelhantemente devem ser tomados os nomes “irmão” e “irmã” , pelo menos, até ao ponto de excluir o termo “primo”.

O fato de terem os filhos de Alfeu, bem como os irmãos do Senhor, os nomes de Tiago, José e Judas, nada prova, visto que esses nomes eram muito vulgares nas famílias judaicas. Estranha-se que não fossem lembrados estes irmãos, quando Jesus confiou a sua mãe aos cuidados de João; mas isso explica-se pela razão de que a esse tempo ainda eles não criam Nele. A conversão deles parece ter sido quando se realizou a aparição de Jesus a Tiago, depois da Sua ressurreição (1 Co 15.7).” (Dicionário Bíblico Universal, pelo Rev Buckland, Editora Vida, 1993).

IRMÃOS DO SENHOR – “Relação de parentesco atribuída a Tiago, José, Simão e Judas, Mt 13.55;Mc 6.3, que aparecem em companhia de Maria, Mt 12.47-50; Mc 3.31-35; Lc 8.19-21, foram juntos para Cafarnaum no princípio da vida pública de Jesus, Jo 2.12, mas não creram nele senão no fim de sua carreira. Jo 7.4,5. Depois da ressurreição, eles se acham em companhia dos discípulos, At 1.14, e mais tarde os seus nomes aparecem na lista dos obreiros cristãos, 1 Co 9.5. Tiago, um deles, salientou-se como líder na Igreja de Jerusalém, At 12.7; 15.13; Gl 1.19; 2.9, e foi autor da epístola que traz o seu nome. Em que sentido eram eles irmãos de Jesus? Tem sido assunto de muitas discussões. Nos tempos antigos, julgava-se que eram filhos de José, do primeiro matrimônio. O seu nome não aparece mais na história do evangelho. Sendo José mais velho que Maria é provável que tivesse morrido logo e que tivesse casado antes. Esta opinião é razoável, mas em face das narrativas de Mt 1.25 e Lc 2.7, não é provável. No quarto século, S. Jerônimo deu outra explicação, dizendo que eram primos de Cristo, pelo lado materno, filhos de Alfeu ou Cléofas com Maria, irmã da mãe de Jesus. Esta explicação se infere, comparando Mc 15.40 com Jo 19.25, e a identidade dos nomes Alfeu e Cléofas. Segundo esta ideia, Tiago, filho de Alfeu, e talvez Simão e Judas, contados entre os apóstolos, fossem irmãos de Jesus. Porém, os apóstolos se distinguiam dos irmãos, estes nem ao menos criam nele, e não é provável que duas irmãs tivessem o mesmo nome. Outra ideia muito antiga é que eles eram primos de Jesus pelo lado paterno e outros ainda supõem que eram os filhos da viúva do irmão de José, Dt 25.5-10. Todas estas opiniões ou teorias parecem ter por fim sustentar a perpétua virgindade de Maria.

O que parece mais razoável e mais natural é que eles eram filhos de Maria depois de nascido Jesus. Que esta teve mais filhos é claramente deduzido de Mt 1.25 e Lc 2.7 que explica a constante associação dos irmãos do Senhor com Maria” (Dicionário da Bíblia, John D. Davis, 21a Edição/2000, Confederação Evangélica do Brasil).

SEUS IRMÃOS – “Não há razão para supor que estes irmãos, tanto como as irmãs mencionadas (Mt 13.55-56), não eram filhos de José e Maria” (O Novo Comentário da Bíblia, vol. II, Nova Vida, 1990, 9a Edição).

IRMÃOS DO SENHOR (Mateus 12.46-50) – “Por insistir na teoria da virgindade perpétua de Maria, o Catolicismo Romano os levou a explicar erroneamente o sentido da expressão irmãos. Assim, eles acreditam que Jesus não tinha irmãos no verdadeiro sentido dessa palavra e o grau de parentesco que ela exprime. No entanto, esse raciocínio não desfruta de nenhum apoio escriturístico. A Bíblia é clara ao afirmar que Jesus tinha quatro irmãos, além de várias irmãs (Mt 13.55,56; Mc 3.31-35; 6.3; Lc 8.19-21; Jo 2.12; 7.2-10; At 1.14; 1 Co 9.5; Gl 1.19). A teoria desenvolvida pelos católicos romanos e por alguns protestantes, que visa defender que Maria permaneceu virgem, é totalmente fútil. Esse conceito só passou a fazer parte da teologia muitos séculos depois de Jesus. Seu objetivo, é claro, era exaltar Maria, criando, assim, a mariolaria” (Bíblia Apologética, João F. Almeida, ICP Editora, 1a Edição, 2000).

Quarto – José e Maria se “conheceram” após o nascimento de Jesus?

A nossa análise terá como base o seguinte registro: “José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher. Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho. E ele o chamou com o nome de Jesus” (Mateus 1.24-25, Bíblia [católica] de Jerusalém).

A passagem acima diz claramente que José, atendendo ao anjo, recebeu em sua casa a sua esposa Maria, e foram viver como marido e mulher. Está dito que Maria foi a mulher de José; que José não conheceu a sua esposa enquanto ela estava grávida de Jesus; que Jesus nasceu de uma virgem, porque José somente conheceu sua mulher – ou seja, teve relações com ela – depois do nascimento de Jesus.

Católicos há que contestam o que está escrito na Bíblia, e dizem que “nas Sagradas Escrituras a expressão “até que” é empregada muitas vezes para indicar um tempo indeterminado, e não para marcar algo que ainda não aconteceu”. Não iremos nos estender na refutação dessa tese porque as duas bíblias de início citadas, aprovadas pelo catolicismo, interpretam corretamente referido versículo, como a seguir:

“Mas [José] não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho, e ele o chamou com o nome de Jesus”: “O texto não considera o período ulterior [depois do parto] e por si não afirma a virgindade perpétua de Maria, mas o resto do Evangelho, bem como a tradição da Igreja, a supõem” (Comentário da Bíblia [católica] de Jerusalém).

Em outras palavras, os exegetas católicos, que trabalharam na edição da referida Bíblia, reconheceram o óbvio, ou seja, que até o nascimento de Jesus, José e Maria não se “conheceram”. Todavia, dizem bem quando entendem que a Tradição “supõe”, isto é, o dogma da perpétua virgindade de Maria é uma suposição, não uma realidade bíblica. O comentário acima coloca por terra argumentos outros não oficiais, segundo os quais José não conheceu sua esposa nem antes nem depois do nascimento de Jesus.

Outro comentário: “Enquanto (ou até que): esta palavra portuguesa traduz o latim donec e o grego heos ou, que por sua vez estão calcados sobre a expressão hebraica ad ki que se refere ao tempo anterior a esse limite sem nada dizer do tempo posterior, cf. Gn 8.7;Sl 109.1; Mt 12.20; 1 Tm 4.13. A tradução exata seria: “sem que ele a tivesse conhecido, deu à luz…”, pois a nossa expressão “sem que” tem o mesmo valor” (Bíblia [católica] Sagrada).

O que a Bíblia acima está dizendo em seus comentários é que o “ATÉ” não foi ALÉM do nascimento de Jesus, ou seja, enquanto grávida e até dar à luz não houve “conhecimento” mútuo do casal.

Concordando com as Bíblias Católicas, a Bíblia Apologética, usada pelos evangélicos, assim esclarece: “Veja a preposição “até” em qualquer concordância bíblica e ficará surpreso a respeito do seu significado. Observe alguns exemplos: Levíticos 11.24-25: “E por estes sereis imundos: qualquer que tocar os seus cadáveres, imundo será ATÉ à tarde”. E depois da tarde, eles permaneceriam imundos? Vejamos agora Apocalipse 20.3: “E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, ATÉ que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco tempo”. Assim, a relação existente antes do nascimento de Jesus se modificou [como se modificou a situação de Satanás após os mil anos de prisão], não a conheceu até que ela deu à luz. Essa passagem declara que, depois do nascimento de Jesus, José Maria tiveram uma vida conjugal normal, como qualquer outro casal. Nenhum autor do Novo Testamento ensina a doutrina da virgindade perpétua de Maria. Se se tratasse de uma doutrina ou ensinamento vital ou essencial como requer o catolicismo romano, certamente Paulo e os outros discípulos teriam mencionado a respeito. Assim resta ao catolicismo romano apegar-se à tradição, porque a Bíblia não aceita essa teoria (Colossenses 2.8)”.

A expressão “não coabitou com Maria ATÉ QUE nascesse Jesus” está muito clara. Ligada à fala do anjo que disse a José que RECEBESSE Maria, sua mulher, ficou entendido que passado o período da gravidez e do descanso depois do parto, José e Maria, marido e mulher, continuariam uma vida a dois como todos os casais do mundo. Assim aconteceu, pois tiveram muitos filhos, conforme está em Mateus 13.55-56. José e Maria constituíram um casal muito feliz e foram abençoados por Deus. E por ter filhos, por amar o seu esposo, por ter sido mãe, Maria não pecou nem perdeu a sua santidade. Maternidade e santidade podem caminhar juntas, sem que uma prejudique a outra.

Sexo no casamento não é pecado.

Quinto – Houve ordem divina para que José não “conhecesse” sua mulher?

Se não havia a intenção formal nem de José nem de Maria de viverem sem relações íntimas, embora residissem sob o mesmo teto, teria havido alguma ordem divina nesse sentido? O leitor deverá ler cuidadosamente Mateus 1.18-25 e Lucas 1.26-38 para verificar a inexistência de qualquer tipo de impedimento. A resposta de Maria ao anjo – “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?” (Lc 1.34) – pode ser interpretada como um voto de virgindade? A Bíblia [católica] de Jerusalém, em seus comentários, responde: “A “virgem” Maria é apenas noiva (v.27) e não tem relações conjugais (sentido semítico de “conhecer”, cf. Gn 4.1; etc.). Esse fato, que parece opor-se ao anúncio dos vv. 31-33, induz à explicação do v. 35. NADA NO TEXTO IMPÔE A IDÉIA DE UM VOTO DE VIRGINDADE” (realce acrescentado).

Sexto – O que diz a Igreja Católica sobre o Matrimônio?

a) “Os atos com os quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos e dignos e a sexualidade é fonte de alegria e prazer”? (Catecismo da Igreja Católica, p. 612, # 2362). Por que com Maria seria diferente?

b) “Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimônio: o bem dos cônjuges e a transmissão da vida”, pois que “esses dois significados ou valores do casamento não podem ser separados sem alterar a vida espiritual do casal” (C.I.C. p. 612, # 2363). Por que com o casal José e Maria seria diferente? Esses “valores” não diziam respeito também a eles?

c) “A sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja veem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais”? (C.I.C., p. 615, # 2373). Por que Maria não podia ter muitos filhos?

d) “Exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca e abre-se à fecundidade”? (C.I.C. p. 449 #1643). Por que doação recíproca e fecundidade deveriam ficar fora do casamento de José e Maria?

e) “O instinto do Matrimônio e o amor dos esposos estão, por sua índole natural, ordenados à procriação e à educação dos filhos… e por causa dessas coisas são como que coroados de sua maior glória”? Se “os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio e contribuem grandemente para o bem dos próprios pais… pois “Deus mesmo disse: “Crescei e Multiplicai” (Gn 2.18)” (C.I.C. p.452 #1652). José e Maria não deveriam crescer e multiplicar? Eles não tinham essa índole natural à procriação?

f) “A sexualidade está ordenada para o amor conjugal entre o homem e a mulher, e no casamento a intimidade corporal dos esposos se torna um sinal de um penhor de comunhão espiritual”? (C.I.C., p.611 #2360). Por que eles não podiam?

Além das considerações sobre o matrimônio, acima registradas, expendidas pela Igreja Católica, o apóstolo Paulo adverte que “Por causa da prostituição cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido”; “a mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido”; e que “não vos defraudeis [negar relação íntima] um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes à oração; mas que “depois ajuntai-vos outra vez para que Satanás não vos tente por causa da incontinência [ausência de relações sexuais]”, (1 Coríntios 7.2-5). A abstinência do casal José e Maria não estaria fora dos propósitos de Deus?

OUTRAS CONSIDERAÇÕES

1) Lemos em João 2.12: “Desceu [Jesus] a Carfanaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos. E ficaram ali muitos dias”. Não pode ser outro o entendimento: Jesus com sua família, a mãe com seus filhos ficaram muitos dias naquela cidade. Não há como forçarmos uma interpretação que nos levaria a pensar que Maria, não tendo filhos com José, resolvera criar seis ou mais parentes. Vejam também a distinção entre “discípulos” e “irmãos”.

2) Quando o termo “irmãos e irmãs” é empregado em conjunto com “pai” ou “mãe”, o sentido não pode ser o de primos e primas, mas de irmãos biológicos, filhos de um mesmo pai ou mãe. Exemplo: “Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e até mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.26).

3) Vejamos quais as palavras usadas no grego – a língua original do Novo Testamento – para designar IRMÃOS, IRMÃS, PARENTES, PRIMOS e SOBRINHOS, conforme a Concordância Fiel do Novo testamento, dois volumes, Editora Fiel, 1a Edição, 1994:

Adelphos – Usada 343 vezes para designar pessoas que têm em comum pai e mãe, ou apenas pai ou mãe; indicar duas pessoas que têm um ancestral comum ou que faz parte do mesmo povo, ou membros da mesma religião. Com essa palavra são nomeados os irmãos de Jesus (Mt 12.46-4813.55; Mc 6.3; Jo 2.12; 7.3,5,10; At 1.14; 1 Co 9.5; Gl 1.19; Jd 1).

Adelphe – O termo é traduzido 26 vezes como irmã, indicando (poucas vezes) a participante de uma mesma fé, e (a maioria dos casos) a filha de um mesmo pai ou mãe. Foi usado, por exemplo, para designar as irmãs de Jesus (Mt 13.56; Mc 3.32; 6.3), a irmã da mãe de Jesus (Jo 19.25), as irmãs de Lázaro, Marta e Maria (Jo 11.1,3,5,28,39).

Syngenis – Usado como o feminino de “parente” para indicar o parentesco de Maria, mãe de Jesus, com Isabel: “Também Isabel, tua parenta…” (Lucas 1.36).

Syngenes – Termo usado para designar pessoa consanguínea, da mesma família, ou da mesma pátria (compatriota). Vejamos alguns dos 11 casos em que o termo foi usado:

“Um profeta só é desprezado em sua pátria, em sua parentela e em sua casa” (Marcos 6.4).

Nota: Quando se trata dos “irmãos de Jesus”, o termo usado é “adelphos” ou “aldephe”. “Isabel tua parenta [ou prima] concebeu um filho em sua velhice…” (Lucas 1.36). Nota: Se Isabel fosse irmã de Maria (filhas de pais comuns) o termo teria sido “adelphe”, de igual modo como foi usado em João 19.25 para designar a irmã da santa Maria.

“… e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos” (Lucas 2.44).

“Sereis traídos até por vosso pai e mãe, irmãos, parentes, amigos, e farão morrer pessoas do vosso meio…” (Lucas 21.16). Nota: Muito importante registrar que nesse versículo são usadas as palavras “adelphos”, para irmãos, e “syngenes”, para parentes. Entende-se que o termo “adelphos”, quando associado às palavras pai ou mãe tem o natural significado de filhos carnais.

Anepsios – Usada somente uma vez para identificar o termo “primo”, na seguinte passagem: “Saúdam-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, PRIMO de Barnabé…” (Colossenses 4.10, Bíblia [católica] de Jerusalém). Nota: Havia portanto na linguagem grega palavras para identificar irmãos, primos e parentes. Logo, se Tiago, José, Simão, Judas e mais algumas mulheres (Mt 13.55-56; Mc 6.3) fossem parentes de Jesus, e não filhos de Maria, a palavra grega mais correta seria “anepsios” ou “syngenes”.

4) Gostaria de chamar a atenção dos leitores para o que está em Atos 1.13-14: “Tendo chegado, subiram ao cenáculo, onde permaneciam. Os presentes eram Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com seus irmãos”.

Maria, as outras mulheres e os irmãos de Jesus eram pessoas distintas dos apóstolos acima citados. Tiago e Judas, irmãos de Jesus, não estavam incluídos naquela relação. Juntaram-se aos apóstolos naquela ocasião.

Não me parece justo procurarmos outra mãe para os irmãos de Jesus. A outra Maria, que pode ser a de Alfeu ou Cléofas, era mãe de Tiago e de José. Vejam: “Maria, mãe de Tiago e de José” (Mt 27.56); “Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José” (Mc 15.40); “Maria, mãe de Tiago” (Lc 24.10); “Tiago, filho de Alfeu” (Mt 10.3; Lc 6.15; At 1.13). Ora, os irmãos de Jesus se chamavam Tiago, José, Simão e Judas. O mesmo cuidado com o que os evangelistas Mateus e Marcos citaram os nomes de todos os irmãos de Jesus, um por um, teria usado para descrever os filhos dessa Maria. Entretanto, só foram citados Tiago e José. E Simão, com quem fica? A Bíblia descreve a existência das seguintes pessoas com esse nome: Simão, irmão de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3); Simão, chamado Pedro, apóstolo (Mt 4.18; 10.3); Simão, o Zelote, apóstolo (Mt 10.4; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Ainda há outros com o nome Simão, como por exemplo Simão Iscariotes, pai de Judas, o traidor (Jo 6.71). A Bíblia com muita propriedade identifica cada um com o detalhe do apelido ou do parentesco. E Judas? A Bíblia diz que Judas, apóstolo, era filho deTiago (Lc 6.16). Não há nenhum registro afirmando que a outra Maria ou Maria, de Cléofas, tenha um filho com o nome de Judas. É quase certo que o autor da Epístola de Judas seja o irmão do Senhor, como descrito em Mateus 13.55 e Marcos 6.3, pelos seguintes motivos: 1) Ele não se apresenta como apóstolo de Cristo, mas como “servo” e irmão de Tiago (Jd 1.1); 2) A sua exortação no v. 17 sugere que ele não fazia parte dos Doze.

Os dados levantados apontam para o entendimento de que Tiago, Simão, José Judas, e mais algumas mulheres, eram realmente irmãos carnais de Jesus, filhos de Maria e de José.

Airton Evangelista da Costa, Pastor da Assembleia de Deus Palavra da Verdade, em Aquiraz (CE)


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