Exemplos da Tolerância de Deus
É um conceito bíblico, expresso de forma clássica no texto
acima, que a luz é progressiva, a santificação é obra de uma vida e o
conhecimento aumenta a cada dia para o povo de Deus. Muitas verdades, que no
passado eram conhecidas apenas parcialmente ou até virtualmente desconhecidas,
foram crescendo e se tornando mais compreendidas pelos servos de Deus.
Veja-se por exemplo que, da mesma forma que Deus tolerou o
uso de bebidas fermentadas, suportou também a escravatura como um mal
contingente, passageiro, mas é evidente na Escritura que o escravismo não era e
nem é parte do plano ideal de Deus, que quer que todos os homens sejam irmãos e
não busquem ser servidos mas servir. Embora tolerando, Deus deu leis para
regulamentar a prática até que o ideal fosse atingido. (Êx. 21:16, 20; Ef. 6:9;
Col. 4:1)
Outros exemplos de práticas que Deus tolerou são o divórcio e a
poligamia, que, conforme é declarado na Bíblia, não faziam parte do plano ideal
divino. Por isso, Ele deu leis que regulamentavam e restringiam essas práticas
tão em voga e até legalizadas nos dias bíblicos entre as nações pagãs. O Seu
povo teria que aprender, depois de quatro séculos de escravidão e em estado
semi-bárbaro, os rudimentos do “evangelho” até atingirem o ideal
de Deus. (Ex. 20:7-11; Deut. 21:10-17; Mal. 2:12-16) O próprio Jesus
refere-se ao divórcio como tolerado em razão da “dureza dos corações” dos israelitas, mas,
disse o Salvador, no princípio não foi assim. Mat. 19:4-8.
Males das
Bebidas Fermentadas
Deus também tolerou as bebidas fermentadas. É evidente pelas
experiências com viciados que, segundo especialistas na área de recuperação de
alcoólatras, a maneira mais segura de evitar o vício é “não tomar o primeiro gole”.
Deus jamais sancionaria um hábito que, mesmo em seu moderado uso
social é responsável pelas mais dramáticas e terríveis estatísticas no que se
refere à degeneração da mente, corpo e espírito dos homens.
Professos seguidores da palavra de Deus jamais admitiriam
envolver-se com a guerra, pelos seus horrores e mortandade, e no entanto,
apoiam o “uso moderado” de bebidas alcoólicas sem considerar que as mortes por
imprudência nas estradas e no trabalho, montam um número anual maior do que o
de muitas guerras. Sem falar em deficientes mentais filhos de ex-bebedores
sociais e agora alcoólatras, lares esfacelados, invalidez, desemprego, aos
centenas e milhares além de outros males. E tudo isso causado na maioria dos
casos por pessoas que bebiam socialmente, somente nos “fins de semana” e possivelmente
consideravam-se “moderadas”.
Considerado doença pela OMS (Organização Mundial de Saúde), o
alcoolismo ainda está em expansão porque muitos, até mesmo religiosos,
sancionam doutrinariamente o seu uso. Brincar com um copo desse vírus é
perigoso. É brincar com veneno!
Portanto, devemos ter em mente que o uso de qualquer marca ou
quantidade de bebida alcoólica é um perigo de crime contra si próprio e contra
o seu próximo, e ainda ficar aquém do ideal da Escritura neste particular como
veremos.
A Bebida
Alcoólica no Antigo Testamento
Outro ponto importante que esclarece a questão do uso de vinho
alcoólico e outras bebidas fermentadas naturalmente, bem como a tolerância de
Deus quanto a essa prática, diz respeito aos hábitos e recursos alimentares dos
tempos bíblicos. É claro que não dispondo das modernas técnicas de
engarrafamento de sucos, sem geladeiras, sem conservantes como temos hoje e sem
embalagens apropriadas, toda uma produção de sucos e sumos estavam sujeitas ao
processo natural de fermentação.
Os odres (recipientes de couro costurado), vasos de barro,
madeira ou metal não impediam a ação das bactérias, tendo os antigos que
conviver com as condições que dispunham nesta parte. Bebiam, pois, vinho sem
fermentar quando ainda novo, recém espremido das uvas, chamado no Antigo
Testamento de TIROSH ou vinho novo, esta palavra aparece 38 vezes no AT. A
bebida consumida tempos depois e já fermentada naturalmente, ou que foi
fabricada em processo de fermentação era denominada normalmente de SHEKAR
(usada 23 vezes no AT). Para bebidas em geral, fermentadas ou não, era usado o
termo YAIM indistintamente, e que aparece 140 vezes no AT.
Portanto, a própria necessidade alimentar de uma bebida
nutritiva e a carência de técnicas e recursos de conservação modernos,
obrigava-os a terem na fermentação natural da bebida uma necessidade e mal
necessário, uma vez que o grau alcoólico nestas bebidas, trazia embutido o
problema do vício do alcoolismo, embriaguez e suas consequências morais,
físicas e espirituais. Por isso o ideal era não usá-las a exemplo dos
recabitas, povo abstêmio que vivia entre os israelitas, e cuja virtude e
lealdade foi ressaltada pelo próprio Deus. Jer. 35:2-5.
Por outro lado, a fermentação era um bem, pois tinha para as
bebidas a função de provavelmente o único e universal processo de conservação
para os sucos sem a deterioração total como é o caso de muitos xaropes vendidos
hoje em dia. Era, pois, um mal necessário, mas um mal. Justifica-se, desse
modo, o ideal de Deus na declaração do sábio em Provérbios 23:31 a 35:
“ Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando
resplandece no copo e se escoa suavemente…” Não se deve nem mesmo desejá-lo,
olhando-o – NÃO OLHES! Porque “no seu fim morderá como a cobra e como o
basilisco picará.” E, continua o sábio: “Olharás mulheres estranhas” e, “teu
coração falará perversidades”. “Dirás: espancaram-me, bateram-me mas quando
acordar beberei outra vez.” Provérbios 23:31 a 35
Que desfecho terrível para um simples olhar e certamente o
primeiro gole! São esses os passos para o vício: olhar, experimentar e a
despeito das consequências, beber outra vez!
Não estamos sujeitos aos hábitos mantidos pela “dureza de corações” e atraso em que
viviam os homens do passado. Não estamos obrigados a sofrer a limitação dos
recursos de técnicas de conservação como eles; não precisamos nem devemos
correr o perigo de consumir tais bebidas, mesmo porque, atualmente, em sua
grande maioria, passam por processos industriais de fermentação e destilaria, o
que aumenta artificialmente, e em muito, o teor alcoólico da bebida.
Concluímos até aqui que, se as bebidas naturalmente fermentadas
eram, na antiguidade, a única forma de se estocar sucos, sendo uma necessidade
daqueles tempos, apesar de suas consequências prejudiciais à saúde,
constitui-se, para nós hoje, um uso desnecessário, contrário ã luz que temos,
temerário e perigoso, mais ainda considerando-se a destilação que aumenta o seu
grau alcoólico.
Certamente tal costume não concorda com o testemunho cristão e
contraria o princípio bíblico, submetido ao qual todos os usos e práticas da
igreja devem estar em harmonia sob pena de contradição: I Cor. 3:16, 17. Somos
o templo de Deus e nada que o contamine, prejudique ou o ponha em risco deve ser
usado.
Referências
Bíblicas Contrárias às Bebidas Fermentadas
Veremos, agora, mais alguns textos que corroboram a recomendação
de não usar bebidas fermentadas:
O vinho e a bebida forte fazem errar e desencaminhar até o
sacerdote e o profeta. Isa. 28:7, 8.
Há uma maldição para os que seguem a bebedice. Isa 5:11, e outra
maldição para os que dão bebida ao seu próximo. Hab. 2:15.
As bebidas alcoólicas são escarnecedoras e alvoroçadoras. Prov.
20:1.
O ideal é nem olhar para o vinho, pois é traiçoeiro, quanto mais
usá-lo! Prov. 23:31, 32.
O beberrão cai em pobreza. Prov. 23:20, 21.
Não vos embriagueis com vinho, mas enchei-vos do Espírito. Ef.
5:18. A bebida alcoólica é incompatível com o Espírito Santo, conforme deixa
claro a conjunção adversativa “mas”.
O bispo não deve ser dado ao vinho . I Tim 3:3; Tito 1:7. Mas o
bom mesmo é não beber vinho devido ao escândalo que pode provocar em outros.
Rom 14:21. A bebida está relacionada com as obras da carne. Gál. 5:21.
Normalmente, os que hoje são bêbados não começaram com a
intenção de sê-lo. Cuidado! Os bêbados não entrarão no reino de Deus. I Cor.
6:10.
A bebida era incompatível com o serviço a Deus pois os
encarregados de atividades no Santuário não podiam beber. Lev. 10:9.
Mesmo no conceito liberal da mãe do rei Lemuel (Prov 31:6) os
que ministravam a justiça e os nobres não deviam beber. Prov. 31:4, 5.
Em Provérbios 31:6 acha-se a opinião da mãe do rei Lemuel e não
uma posição divina sobre o assunto. Os amigos de Jó, embora piedosos, também
deram opiniões religiosas equivocadas pelo que foram posteriormente
repreendidos por Deus (Jó 42:7-9)
Miquéias adverte que um povo mau teria profetas falsos e
mentirosos que defenderiam o vinho e a bebida forte. Miq. 2:11.
O vinho e o mosto tiram a inteligência. Osé. 4:11.
Pessoas dadas ao vinho são desleais, soberbas e não se contém.
Hab. 2:5.
Aqueles que desejam fazer a vontade de Deus devem abster-se do
uso, mesmo moderado, de bebidas alcoólicas, considerando as seguintes razões: a
luz que temos, o ideal de Deus e os males e perigos desse hábito. A total
abstinência é a posição a ser assumida por aqueles que estão preparando o
caminho para a volta do Senhor como fez João Batista. (Luc. 1:15)
Entende-se, pois, que Jesus, nas bodas de Caná, transformou a
água em vinho novo, sem fermentar (TIROSH no AT), o puro suco de uva, o vinho
de melhor qualidade..
Em função dos argumentos acima apresentados a passagem de Deut.
14:26 é mais uma cena do hábito tolerado por Deus apesar das consequências e
por causa das contingências.
Em I Tim 3:8 é recomendada a moderação em reconhecimento ao
perigo que a bebida oferecia, em vista da resistência que a proibição sumária
poderia provocar. Esta opinião do apóstolo foi moldada para restringir um
hábito, conforme o texto deixa claro e não para sancioná-lo.
Em I Tim 5:23 o vinho é recomendado para uso medicinal, conforme
crença do apóstolo, usado pouco com água e não puro como bebida de prazer. Este
texto não serve para defender o uso ou o vício da bebida.
Conclusão
Buscar, neste caso, exemplos bíblico para justificar o consumo
da bebida equivale a apoiar também o divórcio fácil, poligamia e escravidão que
foram, igualmente, alvo da tolerância de Deus. Coloca-se também a Bíblia,
injustamente, como corresponsável pelas tragédias decorrentes da indulgência com
as bebidas fermentadas. Os costumes e práticas dos antigos, alvo da tolerância
de Deus, não refletem necessariamente a vontade divina.
O verdadeiro cristão jamais defenderá tal hábito.
Autor: Demóstenes Neves da Silva
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