II Pedro 1:13-15 : “Também considero justo,
enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos com essas lembranças, certo de
que estou prestes a deixar o meu tabernáculo, como efetivamente nosso Senhor
Jesus Cristo me revelou. Mas, de minha parte, esforçar-me-ei, diligentemente,
por fazer que, a todo tempo, mesmo depois da minha partida, conserveis
lembrança de tudo.”
É notável o silêncio das Escrituras quanto ao fato de Pedro ser
um papa infalível. Um pouco de bom senso já seria por si mesmo suficiente para
desacreditar tal ideia. A característica mais notável do papado, aquilo que a
destaca de todas as outras igrejas, é a sua reivindicação da supremacia,
autoridade e infalibilidade de Pedro, mais tarde estendida aos seus sucessores,
os outros bispos de Roma.
Mas perceba que, se houvesse mesmo esta fonte infalível de
autoridade na igreja, como ensinam nossos amigos católicos, seria
inconcebível que Pedro, (que sabemos na verdade nunca ter sido bispo de Roma,
segundo a Bíblia e a história), ao escrever as duas epístolas gerais e
mencionar a sua partida, que segundo ele estava próxima (II Pedro 1: 13-15), não
avisou os membros da igreja sobre que orientação ou autoridade eles deviam
seguir depois que ele não estivesse mais entre deles. Não é incrível que
o único homem infalível da Igreja, aquele que carregava o fardo de ser a fonte
de autoridade inerrante, não deixou normas nenhuma sobre como o próximo papa
deveria ser escolhido?
A coisa se torna mais espantosa ainda se lembrarmos que a Igreja
havia passado por algo semelhante em Atos, logo no capítulo 1 e foi exatamente
Pedro que se levantou para resolver a questão. Lemos a partir do verso 15
que Pedro levantou-se no meio dos irmãos, em uma assembleia de umas cento
e vinte pessoas e disse:
“É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o
tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao
dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha
conosco da sua ressurreição.”
Sabemos o final da história. Foram propostos dois nomes para
substituir Judas. José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias. Orando,
disseram: “Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes
dois tens escolhido para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do
qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar. E os lançaram em
sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com
os onze apóstolos.”
Não é incrível que o mesmo Pedro que se preocupou em achar
um substituto para Judas não se preocupou, nem ele nem ninguém em deixar
instruído o modo, ou até mesmo quem seria o próximo “papa infalível”, soberano
sobre os outros, e em cuja pessoa a igreja encontraria a fonte de autoridade
infalível?
Porque não vemos Pedro dizendo “Tu, Senhor, que conheces
o coração de todos, e revelou me que estou prestes a deixar este tabernáculo,
revela-nos qual destes apóstolos tens escolhido para preencher esta vaga tão
importante, essencial neste ministério e apostolado, do qual estou partindo,
indo ao Seu encontro?“
Porque não vemos uma assembleia reunida após a morte de Pedro
para escolher quem seria seu sucessor em um lugar vital para a igreja, segundo
ensinam nossos amigos católicos?
Na verdade Pedro sequer menciona o assunto. Por outro lado,
Cristo e os apóstolos advertiram contra os falsos Cristos, os falsos profetas,
os falsos mestres que se levantariam com tais reivindicações.
A Bíblia diz:
“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos
de Deus” (Rm. 8:14).
Mas a Igreja de Roma exige que todos creiam cegamente e com fé
implícita à interpretação da Bíblia dada pelo papa e sua hierarquia. Ao
fazê-lo, ela usurpa o lugar do Espírito Santo como mestre e líder. Que Pedro, o
primeiro papa segundo se alega, não foi infalível como mestre da fé e moral
fica evidente de sua conduta inconsistente em Antioquia quando ele recusou-se a
comer com os cristãos gentios para não ofender certos judeus de Jerusalém (Veja
Gl. 2:11-16).
Pelo contrário, ele teria acrescentado as exigências
ritualísticas do Judaísmo à nova igreja cristã. Isto não teria constituído
nenhum problema para ele, se ele tivesse recebido a orientação do Espírito
Santo reivindicada pela Igreja de Roma para o papa. Não haveria todos de
aceitar suas exigências ritualísticas do Judaísmo? Porque então Paulo não
aceitou, indo ainda mais longe, repreendendo Pedro à vista de todos, quando
este veio a Antioquia ?
Se Pedro era infalível, porque Paulo lhe resistiu face a face ?
A Bíblia mesmo nos responde, dizendo que Pedro, o infalível, se tornara
repreensível ao defender uma doutrina que Paulo entendeu perfeitamente.
Não é incrível, o infalível sendo repreendido e corrigido porque
antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios; quando,
porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar -se, temendo os da
circuncisão?
Como pode Paulo dizer que o “infalível papa” não procedia
corretamente segundo a verdade do evangelho ?
Como pode Paulo dizer ao “infalível papa” na presença de todos:
“se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os
gentios a viverem como judeus?”
E aí vem o mais estranho de tudo: Paulo dá um banho de teologia
e doutrina na fonte infalível e inerrante de autoridade da igreja, segundo
nossos amigos católicos, ao ensinar ao papa infalível que “que o homem não é
justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos
crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não
por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.”
De uma coisa não podemos acusar os católicos: incoerência.
Escolheram Pedro como papa infalível e permanecem firmes até hoje, defendendo o
mesmo erro que foi corrigido por Paulo. Insistem em não aceitar que o homem não
é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, e que
somos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da
lei, ninguém será justificado.
Se nós protestantes tivéssemos que escolher qualquer um dos
apóstolos para ser a cabeça infalível da igreja, esse seria Paulo, e não Pedro,
pois tanto como homem quanto como mestre Paulo foi uma personalidade muito
maior. Mas o fato é que o Novo Testamento não indica em parte alguma, ainda que
ligeiramente, que qualquer homem deveria ser escolhido para essa posição.
No Novo Testamento, além das duas cartas escritas por Pedro,
temos treze escritas por Paulo. Mas em nenhuma delas ele se refere a Pedro como
bispo de Roma, ou qualquer outra igreja. Na mais importante carta de Paulo, à
igreja de Roma, também não menciona Pedro. Em sua carta a Timóteo ele menciona
o cargo de bispo ou ancião, mas não menciona arcebispo, supremo bispo, tampouco
papa. Certamente se um cargo assim tão importante como o de supremo bispo ou
papa existisse, Paulo o teria mencionado. Nem na literatura da igreja
primitiva, durante o segundo ou terceiro século, houve qualquer referência a um
bispo supremo ou papa.
Há referências a Cristo como Pastor Supremo, mas nenhuma a
qualquer homem com esse ou qualquer outro título semelhante.
O fato é que nós temos nossa infalível regra de fé e moral nas
Escrituras do Novo Testamento. E tendo isso, não se faz necessário conceder
infalibilidade a qualquer homem. Para aquele que deseja conhecer a verdade, nós
lhe mostramos as Escrituras dizendo: “Aqui está. Creia e pratique o que
está ensinado aqui e você viverá. Aquele que se afasta desta regra não terá
vida”.
(Este
artigo é de autoria de Franck Toledo Lenzi, e é uma adaptação do texto
encontrado no livro Catolicismo Romano, de Loraine Boettner, pág 193 – IBR, 1a Edição
– 1985. O original, Roman Catholicism, by
Presbyterian and Reformed Publish ing, Co. foi publicado em 1962.)
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