Conteúdo do Artigo
- A Afirmação de Leandro Quadros
- A Contradição com os Escritos de Ellen White
- Exemplos de Adições Extra-Bíblicas por
Ellen White
- Os Perigos da Dependência dos Escritos
de Ellen White
- Comparação com Outros Movimentos Religiosos
- Reflexão
- Referências Bibliográficas
Introdução
A autoridade de Ellen White dentro do Adventismo é um tema recorrente e, ao mesmo tempo, controverso. Muitas vezes, surge a questão sobre o papel que seus escritos desempenham na interpretação da Bíblia e na prática da
fé adventista. Recentemente, Leandro Quadros, um dos principais defensores e apologistas adventistas, afirmou que os escritos de Ellen White não acrescentam nada de novo à Bíblia, sendo apenas um auxílio para melhor compreensão das Escrituras. Contudo, essa declaração merece uma análise mais profunda, especialmente considerando as próprias afirmações de Ellen White e as adições que ela fez em seus escritos. Este artigo visa examinar criticamente as afirmações de Leandro Quadros à luz dos textos de Ellen White, destacando exemplos específicos de adições extra-bíblicas que ela fez em suas obras.A
Afirmação de Leandro Quadros
Leandro
Quadros, em uma de suas apresentações, argumentou que Ellen White deveria ser vista
como uma “luz menor” que aponta para a “luz maior”, que é a Bíblia. Ele
utilizou a analogia de um telescópio, afirmando que, assim como o telescópio
não adiciona novas estrelas ao céu, mas apenas nos permite ver melhor as que já
estão lá, os escritos de Ellen White não acrescentam nada à Bíblia, apenas a
tornam mais compreensível.
Quadros
enfatizou que “ela não acrescenta nada de novo na Bíblia porque a Bíblia é
perfeita e completa a palavra de Deus.” Essa declaração sugere que os escritos
de Ellen White funcionam apenas como uma ferramenta auxiliar, semelhante a um
comentário bíblico ou a um dicionário teológico, e não como uma nova revelação
ou uma adição à Escritura.
No
entanto, essa alegação merece uma análise mais detalhada, especialmente quando
confrontada com os próprios escritos de Ellen White.
A
Contradição com os Escritos de Ellen White
Ao
longo de seus escritos, Ellen White fez várias afirmações que indicam uma visão
diferente da que Leandro Quadros propôs. Ela frequentemente referiu-se a seus
próprios livros como inspirados por Deus e essenciais para a orientação do povo
adventista. Em “Testemunhos para a Igreja”, Ellen White declarou: “Esses livros
contêm a verdade para esse tempo… não são de produção humana” (White, Testemunhos
para a Igreja, Vol. 1).
Essa
afirmação contradiz diretamente a ideia de que os escritos de Ellen White são
meramente auxiliares e que não acrescentam nada novo à Bíblia. De fato, Ellen
White não apenas via seus escritos como complementos, mas como essenciais para
a correta compreensão das Escrituras e a preparação para os eventos finais.
Outro
exemplo de sua postura sobre seus escritos pode ser encontrado na seguinte
citação: “Se o povo de Deus não estudar essas mensagens… eles serão culpados de
rejeitar a luz” (White, Testemunhos para a Igreja, Vol. 5). Aqui,
Ellen White não só eleva seus escritos ao nível de orientação divina, mas
também sugere que a rejeição desses escritos pode resultar em condenação.
Portanto,
a alegação de Leandro Quadros de que Ellen White não acrescenta nada à Bíblia é
contradita pelas próprias palavras de Ellen White, que via seus escritos como
essenciais e inspirados diretamente por Deus.
Exemplos
de Adições Extra-Bíblicas por Ellen White
Para
ilustrar de forma concreta as adições extra-bíblicas que Ellen White fez em
seus escritos, aqui estão dez exemplos específicos:
- Criação de Adão e Eva: Ellen White descreveu
detalhes não encontrados na Bíblia sobre a criação de Adão e Eva, como o
fato de que Adão foi criado a partir do pó do solo, mas Eva foi criada a
partir de uma costela de Adão, enfatizando aspectos específicos do
processo de criação que não estão detalhados nas Escrituras. (Patriarcas
e Profetas, p. 45).
- A Rebelião de Satanás no Céu: White expandiu a narrativa
bíblica sobre a rebelião de Satanás, detalhando diálogos entre Satanás e
outros anjos, e descrevendo reuniões no céu onde Satanás apresentou suas
objeções ao governo de Deus. (História da Redenção, p. 14-17).
- O Dilúvio: Ellen White afirmou que os
antediluvianos (pessoas que viveram antes do dilúvio) eram
tecnologicamente avançados e que a arca de Noé foi construída com
ferramentas superiores às que possuímos hoje, algo não mencionado na
Bíblia. (Patriarcas e Profetas, p. 90-92).
- A Torre de Babel: Ela escreveu que a Torre
de Babel foi construída com a intenção de desafiar Deus e sobreviver a
outro possível dilúvio, um detalhe que não é explicitamente mencionado na
narrativa bíblica. (Patriarcas e Profetas, p. 123-124).
- Amalgamação de Espécies: Ellen White declarou que
antes do dilúvio houve uma “amalgamação de homem e besta”, resultando em
criaturas que foram destruídas pelo dilúvio. Este conceito é completamente
extra-bíblico. (Spiritual Gifts, Vol. 3, p. 64).
- Jesus em Desespero no
Getsemani:
Em O Desejado de Todas as Nações, Ellen White descreve Jesus
em um estado de desespero no Jardim do Getsêmani, tão severo que Ele quase
morreu antes mesmo de ser crucificado, uma descrição que vai além do
relato bíblico. (O Desejado de Todas as Nações, p. 693).
- A Páscoa Celestial: White sugeriu que os fiéis
observadores do sábado participarão de uma Páscoa celestial no céu, uma
ideia não encontrada nas Escrituras. (O Grande Conflito, p.
637-638).
- O Juízo Investigativo: White ensinou que desde
1844, Cristo entrou em um juízo investigativo, revisando os registros de
vida de todos os seres humanos. Esse conceito é exclusivo do Adventismo e
não tem base bíblica direta. (O Grande Conflito, p. 479-491).
- A Carne e o Pecado: Ellen White escreveu que o
consumo de carne poderia resultar em perda de salvação, uma posição que
extrapola as recomendações dietéticas bíblicas e impõe um fardo adicional
não encontrado nas Escrituras. (Conselhos Sobre o Regime Alimentar,
p. 383-384).
- Os 144.000: White afirmou que o número
literal dos 144.000 selados, mencionados em Apocalipse, representava um
grupo exclusivo de adventistas que seriam salvos. Ela adicionou detalhes
sobre sua pureza e caráter que vão além da descrição bíblica. (Primeiros
Escritos, p. 15-16).
Esses
exemplos evidenciam como Ellen White introduziu conceitos, eventos e
interpretações que vão além do texto bíblico, frequentemente adicionando
detalhes ou criando narrativas que não são encontradas nas Escrituras.
Os
Perigos da Dependência dos Escritos de Ellen White
A
dependência dos escritos de Ellen White para a interpretação bíblica levanta
questões teológicas significativas, especialmente no que diz respeito à
autoridade das Escrituras. O princípio da sola scriptura, defendido
por muitos reformadores protestantes, sustenta que a Bíblia é a única
autoridade final em questões de fé e prática. No entanto, a elevação dos
escritos de Ellen White a um status quase canônico compromete esse princípio
fundamental.
Ellen
White afirmou: “Se o povo de Deus não estudar essas mensagens… eles serão
culpados de rejeitar a luz” (White, Testemunhos para a Igreja, Vol.
5). Essa afirmação sugere que os escritos dela possuem um papel essencial na
salvação e na correta prática da fé. Isso cria uma dependência perigosa de suas
obras, que passa a ser vista não apenas como um auxílio, mas como um requisito
para a verdadeira fé adventista.
Essa
perspectiva coloca os escritos de Ellen White em uma posição de co-autoridade
com a Bíblia, algo que vai além do que a sola scriptura permite.
Além disso, a insistência em seus escritos como necessários para a compreensão
correta da Bíblia cria um ambiente em que as Escrituras são interpretadas
através do prisma das visões e revelações de Ellen White, o que pode levar a
distorções significativas do evangelho bíblico.
Comparação
com Outros Movimentos Religiosos
O
fenômeno de um profeta moderno, cujos escritos são elevados a uma posição de
autoridade, não é exclusivo do Adventismo. Joseph Smith, fundador do Movimento
dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons), também alegou ter recebido revelações
divinas que resultaram no Livro de Mórmon. Assim como Ellen White, Smith
afirmou que suas visões eram essenciais para a compreensão completa das
Escrituras e para a salvação.
Existem
várias semelhanças entre Ellen White e Joseph Smith, tanto na forma como suas
visões são vistas dentro de seus respectivos movimentos quanto na maneira como
esses escritos são tratados em relação à Bíblia. Ambos os movimentos elevam
seus profetas fundadores a uma posição de co-autoridade com as Escrituras,
sugerindo que sem esses escritos, a Bíblia não pode ser completamente
compreendida.
Contudo,
essa elevação de escritos humanos à co-autoridade com a Bíblia levanta questões
sérias sobre a natureza da revelação e da inspiração. Se a Bíblia é
verdadeiramente completa e suficiente, então qualquer adição a ela, seja por
Ellen White, Joseph Smith ou qualquer outro profeta, deve ser vista com extrema
cautela.
Reflexão
A
análise das afirmações de Leandro Quadros em relação a Ellen White revela uma
tensão entre a tentativa de alinhar os escritos de White com a sola
scriptura e as próprias declarações de White sobre a natureza e a
importância de suas obras. Enquanto Quadros argumenta que os escritos de Ellen
White não acrescentam nada à Bíblia, as próprias palavras de White, assim como
os exemplos de suas adições extra-bíblicas, indicam o contrário. Ela via seus
escritos como inspirados por Deus, essenciais para a compreensão correta das
Escrituras e até mesmo necessários para a salvação.
Essa
dependência dos escritos de Ellen White compromete o princípio da sola
scriptura e coloca em risco a centralidade da Bíblia como a única
regra de fé e prática. Além disso, a comparação com outros movimentos
religiosos, como o Mormonismo, destaca os perigos de se elevar escritos humanos
ao nível da co-autoridade com a Bíblia.
Portanto,
é crucial que os adventistas e todos os cristãos considerem cuidadosamente a
posição que atribuem aos escritos de Ellen White. A Bíblia, como a Palavra de
Deus, deve ser a nossa única e verdadeira luz. Qualquer outra fonte, por mais
inspirada que pareça, deve ser submetida ao crivo das Escrituras e nunca deve
ser colocada em pé de igualdade com elas.
Referências
Bibliográficas
- White, Ellen G. Testemunhos
para a Igreja, Vol. 1-9. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
- White, Ellen G. O
Grande Conflito. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
- White, Ellen G. Patriarcas
e Profetas. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
- White, Ellen G. História
da Redenção. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
- White, Ellen G. O
Desejado de Todas as Nações. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
- White, Ellen G. Primeiros
Escritos. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
- Quadros, Leandro. “Ela não
acrescenta nada de novo na Bíblia…” Na Mira da Verdade, 2023.
- Smith, Joseph. Livro
de Mórmon. Salt Lake City, UT: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias.
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