É conhecida a obstinação dos Espíritas em firmar sua posição sobre a doutrina da reencarnação, justificando-a com o argumento de que cada um faz por merecer sua própria salvação. Allan Kardec tinha um lema que foi colocado como epitáfio no seu túmulo na cidade de Paris, França: ”naitre mourir renaitre encore et progresser sarns cesse telle est la loi”, que pode ser traduzido da seguinte maneira: “nascer, morrer e progredir sempre; esta é a lei”.
Assim, dentro do espiritismo, Deus jamais pode perdoar alguém, porque isso atrasaria o progresso espiritual da pessoa e a justiça de Deus seria falha em não premiar cada pessoa pelo o que ela faz em seu favor, por meio das obras de caridade. Um slogan bastante conhecido, que norteia este pensamento, é “fora da caridade não há salvação”. A expressão “progredir sempre; esta é a lei” — a que se refere Allan Kardec — é a lei do progresso irreprimível, até a perfeição, mediante repetidas reencarnações até se tornar “um
espírito puro”. Este ensino é fundamental dentro do espiritismo, que afirma que o homem deve “alcançar a meta final por esforços próprios. Sem tal condição, a justiça de Deus se faria falha. A justiça de Deus exige que todas as suas criaturas atinjam o estado final de espíritos puros, igualando-os todos” (Livro dos Espíritos, cap. IV, item II, resposta da pergunta 171).A Justiça de Deus
Allan Kardec pergunta aos espíritos:
“Em que se funda a lei da reencarnação?”. E responde: “Na justiça de Deus e na
revelação; incessantemente repetimos…”.
Prossegue ele, afirmando: “A doutrina
da reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas existências
sucessivas, é a única que corresponde à ideia da justiça de Deus, comum
respeito aos homens de condição moral inferior, a única que pode explicar o
nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois oferece-nos o meio de
resgatarmos os nossos erros por meio de novas provas. A razão assim nos diz, e
é o que os Espíritos nos ensinam” (Livro dos Espíritos, cap. IV, item II,
resposta da pergunta 171).
Como vemos, a reencarnação, segundo
Kardec, se justifica, pois “é a única que corresponde à ideia da justiça de
Deus…” E afirma ele: “é o que os Espíritos nos ensinam”. Entretanto, vejamos
uma situação em que esta suposta justiça de Deus não pode ser consumada (Livro
dos Espíritos, cap. IV, item II, resposta da pergunta 171).
A Reencarnação de Pessoas e Animais
Preliminarmente,
apontamos que os kardecistas não admitem o retrocesso dos espíritos ao corpo de
animal. Diz Kardec: “A pluralidade das existências, segundo o espiritismo,
difere essencialmente da metempsicose, pois não admite aquele a
encarnação da alma humana nos corpos dos animais, mesmo como castigo. Os
Espíritos ensinam que a alma não retrograde, mas progride sempre” (O Que É
o Espiritismo, cap. II, Terceiro Diálogo O Sacerdote).
Os animais não estão distantes dos
homens no campo da inteligência. Segundo o espiritismo, é até uma ofensa chamar
um animal de burro, porque o animal tira seu “princípio inteligente” do mesmo
“elemento inteligente universal”. É o que ensina Allan Kardec. Ele pergunta e
os espíritos respondem:
Allan Kardec: “606. Donde tiram os
animais o princípio inteligente que constitui a espécie particular de alma de
que são dotados?”.
Espíritos: “Do elemento inteligente
universal”.
Allan Kardec: “597. Tendo os animais
uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum
princípio independente da matéria?”.
Espíritos: “Sim, e que sobrevive ao
corpo”.
Allan Kardec: “600. Sobrevindo a
morte do corpo, a alma do animal fica errante, como a do homem?”.
Espíritos: “Fica numa espécie de
erraticidade, pois não está unida a um corpo…”.
Allan Kardec: “601. Os animais estão
sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva?”.
Espíritos: “Sim, e daí vem que nos
mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são,
dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre, porém, inferiores ao
homem, e se lhe acham submetidos, sendo para estes servidores inteligentes”.
Allan Kardec: “603. Nos mundos
superiores, os animais conhecem a Deus?”.
Espíritos: “Não. Para os animais, o
homem é um deus, como outrora os Espíritos eram deuses para o homem”.
Allan Kardec: “604. Mesmo
aperfeiçoados nos mundos superiores, desde que os animais são sempre inferiores
ao homem, segue-se que Deus teria criado seres intelectuais perpetuamente
voltados à inferioridade. Isto parece em desacordo com a unidade de vistas e de
progresso que se notam em todas as Suas obras?”.
Espíritos: “Tudo se encadeia na
Natureza, por elos que ainda estais longe de perceber; as coisas aparentemente
mais disparatadas têm pontos de contato que o homem não pode compreender no seu
estado atual”.
Allan Kardec: “604-a. Assim, a
inteligência é uma propriedade comum, um ponto de contato entre a alma dos
animais e do homem?”.
Espíritos: “Sim. Mas os animais
apenas têm a inteligência da vida material. No homem a inteligência produz a
vida moral” (Livro dos Espíritos, perguntas e respostas indicadas).
Diante do exposto, perguntamos: “Como
fica, então, a ‘ideia da justiça de Deus’, reclamada pelos espíritas, de
igualdade entre todos os seres criados por Deus, se ela não se dá com respeito
aos animais, que serão perpetuamente destinados à inferioridade em relação aos
homens, sendo o homem para os animais um deus?”
Os espíritas não têm resposta que
satisfaça a esta indagação e só podem admitir que “as coisas aparentemente mais
disparatadas têm pontos de contato que o homem não pode compreender no seu
estado atual”.
O Ensino dos Espíritos
O codificador do espiritismo ressalta
que a doutrina da reencarnação, o ensino mais importante e atraente dos
espíritas, é resultado do ensino dos espíritos por ele recebido e exposto no
Livro dos Espíritos, considerado “a Bíblia” dos espíritas. São 1.016 perguntas
formuladas por Allan Kardec com respostas supostamente dadas pelos espíritos.
Assim, o ensino da reencamação, segundo Kardec, foi dado pelos espíritos.
Escreve Kardec: “Não somente por que
ela nos veio dos Espíritos, mas porque nos parece a mais lógica e a única que
resolve as questões até então insolúveis. Que ela nos viesse de um simples
mortal, a adotaríamos da mesma maneira, não hesitando em renunciar as nossas
próprias ideias. Do mesmo modo, nós a teríamos repelido, embora viesse dos
Espíritos se nos parecesse contrária à razão, como repelimos tantas outras”
(Livro dos Espíritos, capítulo V, Considerações Sobre a Pluralidade das
Existências, comentário de Kardec após a resposta da pergunta 222).
O Caráter Essencial da Doutrina Espírita
Allan Kardec estabelece, como se pode
identificar, uma doutrina dada pelos espíritos. Diz ele: “O caráter essencial
desta doutrina, a condição de sua existência, está na generalidade e
concordância do ensino; donde resulta que todo princípio que não recebeu a
consagração do assentimento da generalidade não pode ser considerado parte
integrante desta mesma doutrina, mas simples opinião isolada, cuja
responsabilidade o espiritismo não assume” (A Gênese, Introdução).
Mas o grande
problema para os espíritas, confessado por Allan Kardec, é que não se pode
identificar o ensino unânime dos espíritos sobre a reencarnação. Diz ele:
“Seria o caso, talvez, de examinar-se porque todos os Espíritos não parecem de
acordo sobre este ponto” (Livro dos Espíritos, capítulo V, Considerações Sobre
a Pluralidade das Existências, comentário de Kardec após a resposta da pergunta
222). E mais: “De todas as contradições que se observam nas comunicações dos
Espíritos, uma das mais chocantes é aquela relativa à reencarnação, como se
explica que nem todos os Espíritos a ensinam?” (Livro dos Médiuns, cap.
27, Das Contradições e Mistificações, resposta da pergunta
301, item 8º).
Espíritas Versus Espíritas
Notável é que não exista identidade
doutrinária entre os espíritas anglo-saxões (os de fala inglesa,
principalmente) e os espíritas de origem latina (línguas francesa, portuguesa,
espanhola etc.). Enquanto os espíritas de origem latina admitem a doutrina
reencarnacionista, o mesmo não acontece com os de origem inglesa, que negam
peremptoriamente esta doutrina. Dizem que, na verdade, a doutrina da
reencamação, ensinada por Allan Kardec no Livro dos Espíritos, não é dos
espíritos, mas do próprio Allan Kardec.
Em verdade, não há dúvidas a respeito
desta invenção, pois o próprio Allan Kardec foi muito claro ao declarar que a
doutrina da reencarnação seria descartada se não pudesse aceitá-la
racionalmente: “Que ela nos viesse de um simples mortal, e a adotaríamos da
mesma maneira, não hesitando em renunciar as nossas próprias ideias. Do mesmo
modo, nós a teríamos repelido, embora viesse dos Espíritos se nos parecesse
contrária à razão, como repelimos tantas outras”.
Isso mostra que a mais divulgada e
atraente doutrina espírita realmente não é ensino dos espíritos, mas ensino do
seu codificador, uma vez que há explícita falta de generalidade e concordância
por parte dos espíritos.
Cai por terra, então, a doutrina mais
importante do espiritismo pelas seguintes razões:
§ A alegada justiça
de Deus não existe entre todas as criaturas, homens e animais, pois sempre
persiste a diferença entre as duas criações, sendo o homem um deus para os
animais.
§ A reencarnação, na
verdade, não é de origem dos espíritos, mas do próprio Allan Kardec.
Redenção pelo Sangue de Cristo
Os espíritas se
revoltam quando ouvem falar da redenção por meio de Cristo mediante sua morte
na cruz. Repelem-na ostensivamente. O substituto de Allan Kardec na hierarquia
espírita, León Denis, se pronuncia acintosamente sobre o ensino bíblico da nossa
redenção por Cristo, nas seguintes palavras: “Não, a missão de Cristo não
era resgatar com o seu sangue os crimes da humanidade. O sangue, mesmo de um
Deus, não seria capaz de resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se a si
mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal. É o que os espíritos, aos milhares,
afirmam em todos os pontos do mundo” (Cristianismo e
Espiritismo, León Denis, cap. 7, Os Domas –O Sacramento e o Culto
– comentário de ITm 2.5).
Tal declaração blasfema não invalida
o ensino bíblico da nossa redenção por Cristo mediante sua morte na cruz.
Tenhamos presente as palavras de Paulo sobre a falibilidade humana ante a
verdade de Deus exarada na Bíblia:
“Pois quê? Se alguns foram
incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de Deus? De maneira
nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso; como está
escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, e venças quando fores
julgado” (Rm 3.3-4).
A Bíblia apresenta os seguintes
pontos sobre a nossa redenção por Cristo, contrariando a posição doutrinária
espírita:
§ O evangelho
verdadeiro foi resumido por Paulo nos seguintes fatos: “Porque
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo
morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou
ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (ICo 15.3-4).
Estas palavras de
Paulo são a repetição da profecia de Isaías com relação à obra redentora de
Jesus: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as
nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido
de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões,
e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a
paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is
53.4-5). Está é a mensagem central cristã.
§ Nossa redenção por
Cristo é a medula do evangelho: “Bem como o Filho do homem não veio
para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt
20.28).
§ O texto de João
3.16 é considerado a Bíblia em miniatura: “Porque Deus amou o mundo de tal
maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna”.
§ Negar a redenção
por Cristo é estar sob inspiração satânica: “Desde então começou Jesus
a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas
coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e
dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro,
tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de
ti; de modo nenhum te acontecerá isso. Ele, porém, voltando-se, disse
a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo;
porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mt
16.21-23).
Seria bom que os
espíritas se mostrassem mais humildes e deixassem os ensinos errôneos que
seguem (ITm 4.1) para aceitar o ensino bíblico da nossa redenção por Cristo. Se
Cristo pagou nossa redenção na cruz, por que a insistência dos espíritas em
querer comprar sua redenção mediante boas obras por meio de sucessivas
reencarnações? Na cruz, Jesus bradou: “Tudo está consumado!” (Jo
19.30).
O apóstolo Paulo
foi enfático neste particular, dizendo: “Porque pela graça sois salvos,
por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para
que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para
as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef
2.8-10).
Por Pr Natanael Rinaldi
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