Há muitos anos o periódico The Pentecostal Evangel, órgão do Concilio das Assembleias de Deus nos Estados Unidos, publicou excelente artigo de autoria de Nelson E. Hinman, sob o título acima, que tomamos a liberdade de transcrever e adaptar:
A questão do sábado tem deixado muitos cristãos evangélicos num verdadeiro estado de confusão. Especialmente os novos na fé, que não sabem discernir entre uma e outra dispensação ou entre uma e outra aliança bíblica, se tornam presa fácil dos falsos mestres legalistas que se apresentam carregados de argumentos aparentemente irrefutáveis.
Se a Palavra de Deus nos ensina que os
dez mandamentos como os encontramos no livro de Êxodo, são obrigatórios para o cristão, então temos de admitir que o sábado igualmente o é. Mas a Bíblia não nos ensina assim. Nela lemos que Cristo c mediador de uma melhor aliança, que está firmada em melhores promessas. Porque, se aquela primeira aliança fosse irrepreensível, não haveria lugar para uma segunda. Mas Deus, ao repreender os israelitas por intermédio do profeta Jeremias, afirma: “Virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei uma nova aliança. Ela não será segundo a aliança que fiz com seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porque não permaneceram naquela minha aliança, e eu para eles não atentei, diz o Senhor. Esta e a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor. Porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei. Eu serei o seu Deus, eles serão o meu povo. E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior. Pois serei misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados e de suas iniquidades não me lembrarei mais’ (Hb 8.8-13).Que o leitor atente para as expressões que aparecem nos versículos anteriores aos da citação acima, como: “ministério tanto mais excelente”, “superior aliança” e “firmada em melhores promessas”. As Escrituras falam de duas distintas alianças, afirma que a segunda destas alianças, em relação à primeira, é não apenas diferente, mas incomparavelmente superior.
As
duas alianças
Moisés foi o mediador da primeira aliança, estabelecida no monte Sinai, também conhecido como Horebe. Foi feito com os filhos de Israel. Foi selado com o sangue de animais sacrificados. Era condicional da parte do homem cm obediência aos dez mandamentos.
Mas o tempo chegou, quando uma nova ordem tinha de ser introduzida estabelecida uma nova aliança. O profeta Jeremias foi um daqueles que anunciou a nova aliança, conforme a citação de Hebreus, acima. Uma das características dessa nova aliança é que ela seria gravada no coração do crente: “Porei a minha lei no seu interior, a escreverei no seu coração…. Não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz. o Senhor. Pois lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados” (Jr 31.32-35, EC).
Uma nova e superior aliança seria feita com o povo de Deus e substituiria a antiga aliança, chamada por Paulo, entre outras coisas, de transitória. Vejamos como o apóstolo Paulo compara as duas alianças, em 2 Coríntios 3.
A
primeira aliança
Êxodo 34.27-28.
Mediador: Moisés, 2 Coríntios 3.7.
Gravada em pedras, v. 7.
Escrita com tinta, v. 3.
Veio em glória, v. 7.
Ministério da condenação, v. 9.
É um jugo de servidão.
Acaba com morte, vv. 3,6,7.
Era transitório, vv. 7.1 1.
A
segunda aliança
Jeremias 31.31-34.
Mediador: Cristo, 2 Coríntios 3.3-14; Hebreus8.6- 9.15.
Escrita no coração, vv. 2.3.
Tem excelente glória, v. 10.
Ministério da justificação. Atos 13.38.39.
Traz liberdade, 2 Coríntios 3.17.
Os que defendem a guarda do sétimo dia geralmente não aceitam esse argumento, dizendo que Paulo, em 2 Coríntios 3 refere-se a outra lei e não àquela que foi gravada em pedras. Porém, comparando Deuteronômio 10.1 (“Naquele mesmo tempo me disse o Senhor: Alisa duas tábuas de pedra, como as primeiras, e sobe a mim a este monte, e faze uma arca de madeira”) com 2 Coríntios 3.7 (“E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória”), vê-se claramente que Paulo fala da lei dos dez mandamentos. Portanto, se a antiga aliança já findou, perguntamos: Qual é o conteúdo da nova aliança? Porventura ordena ela que observemos o sétimo dia da semana?
Se os dez mandamentos dados na antiga aliança já passaram, vivem então os cristãos sem eles? Podem tomar o nome de Deus em vão, matar, roubar etc.? Por certo que não, pois que o Novo Testamento proíbe tais pecados.
Os
mandamentos da nova aliança
Examinemos os dez mandamentos cm Êxodo 20, um após o outro, e vejamos o que o Novo Testamento (ou a nova aliança) diz acerca deles:
O primeiro mandamento diz: “Não terás outros deuses diante de mim”. Este é um mandamento contra a idolatria, contra a adoração de deuses falsos.
A nova aliança contém uma linguagem forte ao proibir a idolatria. Considere as seguintes passagens: “Não vos façais idólatras… como alguns deles”; “Portanto, meus amados, fugi da idolatria” (1 Co 10.7.14); “Filhinhos. guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5.21). “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento” (Mt 22.37; veja também Mc 12.30; Lc 10.27).
O segundo mandamento ensina: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra”. Este mandamento é também contra a idolatria que coloca uma imagem de Deus ou outros objetos para adoração.
O ensino do Novo Testamento acerca deste pecado é nítido. Jesus disse: “Mas a hora vem, e agora é em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (Jo 4.23). Os cristãos têm de adorar com o coração, não com a formalidade. Adoração espiritual é aquela que não depende de ritos e cerimônias, nem de pompa e formas exteriores; é a que sai do coração para Deus em qualquer tempo e em qualquer lugar: “O Pai procura a tais que assim o adorem’’.
Outros textos do Novo Testamento acerca desse mandamento: “Mas escrever-lhes (aos gentios convertidos) que se abstenham das contaminações dos ídolos… Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos… Todavia, quanto aos que creem dos gentios, já nós havemos escrito e achado por bem que se guardem do que se sacrifica aos ídolos…” (At 15.20,29; 21.25). “E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, de quadrúpedes, e de répteis” (Rm 1.23). “Não vos façais idólatras, como alguns deles; conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber e levantou-se para folgar… Portanto, meus amados, fugi da idolatria” (1 Co 10.7,14). “As obras da carne são manifestas, as quais são… idolatria” (Gl 5.19.20). “Fazei, pois, morrera vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria” (Cl 3.5, ARÃ). “Filhinhos. guardai-vos dos ídolos” (I Jo 5.21).
O terceiro mandamento é: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão. pois o Senhor não terá por inocente o que tornar o seu nome em vão”. Este mandamento proíbe profanar o santo nome de Deus. Os cristãos têm um mandamento semelhante que vai mais além: “Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o trono de Deus… Seja, porém, o vosso falar: Sim. sim; não. não” (Ml 5.34,37). “Mas, agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca” (Cl 3.8).
O quarto mandamento diz: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor leu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu escravo, nem a tua escrava, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Pois em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há. mas ao sétimo dia descansou. Por isso abençoou o Senhor o dia de sábado, e o santificou”.
Esse é o único mandamento que não se encontra repelido na nova aliança. Esquadrinhando todo o Novo Testamento, não encontramos nenhum ensino de Jesus ou dos apóstolos para santificarmos o dia sétimo mais do que qualquer outro.
Todos os que ensinam que o sábado, o sétimo dia deve ser santificado por todos os cristãos, não guardam este dia da maneira como foi ordenado. Os tais devem saber que a lei. ao mandar guardar ao sábado, também diz como ele deve ser observado. Para guardar o sábado os israelitas recebem as seguintes instruções:
-
Não fazer nenhuma obra nesse dia. Êxodo 20.10;
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Trabalhar nos outros seis dias. v. 9;
-
Não podiam apanhar lenha no dia de sábado; um homem achado fazendo isso foi
apedrejado até morrer. Números 15.32.36;
-
Não acender fogo em casa, Êxodo 35.3;
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Sacrificar duas ovelhas em oferta de manjares todos os sábados. Números
28.9.10.
Se os sabatistas querem insistir na guarda do sétimo dia, então terão de guardá-lo conforme estes preceitos.
A lei exigia que toda comida fosse preparada na véspera do sábado, e este dia era conhecido no tempo de Jesus como “o dia da preparação”, assim mencionado nos Evangelhos. Os judeus que guardam a letra da lei, nem sequer acendem luz elétrica no sábado, porque seria acender lume. E se nós estamos vivendo sob a lei, devemos obedecer aos mandamentos em todos os preceitos.
Mas graças a Deus que não vivemos sob a lei, mas sob a graça da nova aliança, e por isso não estamos obrigados a guarda um dia mais do que outro. Em Romanos 14.5.6 o apóstolo escreve: “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. O que come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come para o Senhor não come e dá graças a Deus”.
A doutrina dos que guardam o sábado corresponde com esta? Não, porque dizem que o sábado tem de ser guardado sobre todos os outros dias. Negam assim o privilégio de cada um decidir por si mesmo a esse respeito, privilégio que é parte da gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
Muito se ensina no Novo Testamento acerca do primeiro dia, o do Senhor, mas à luz de Romanos 14.4-6, entendemos que a questão de guardar um dia mais do que a outro não era obrigação, mas opção na primitiva igreja. O dia do Senhor, ou o primeiro dia, era guardado tendo por motivo o amor, e não a lei.
Se alguém arguir que Jesus guardava o sábado de Moisés, replico: tinha de fazer assim, visto que veio sob a lei e guardou todos os mandamentos de seu Pai para os judeus; porém, ao estabelecer a nova aliança, não nos deixou nenhum mandamento a respeito do sábado, exceto o que já mencionamos em Romanos 14 e em Hebreus 10.25, onde diz: “Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestemo-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia”. Somos ensinados acerca das reuniões, mas o dia para realizá-las fica à nossa escolha.
O quinto mandamento diz: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá”. Este mandamento está repetido em Efésios 6.1 a 4. com a diferença que na nova aliança o mandamento foi ampliado, pois inclui a responsabilidade dos pais de disciplinar os próprios filhos: “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é Honra a teu pai e a lua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor”. “Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor” (Cl 3.20).
No sexto mandamento, o Senhor diz: “Não matarás”. E Jesus interpreta-o, dizendo que odiar equivale a matar. Sentimentos e palavras de ódio são tão maus à vista de Deus como o ato de matar. O que pensará Deus quando os homens vêm à sua presença para o adorar com os seus corações cheios de ódio, malícia e inveja contra os irmãos?! “Que nenhum de vós padeça como homicida” (1 Pe 4.15, ver também Ml 5.22; 1 Jo 3.15).
O sétimo mandamento diz: “Não adulterarás”. Este mandamento foi, como o sexto, ampliado por Jesus para incluir o desejo do coração (Mt 5.27 e 28). Deus acentua a vida interior, pois é ali que a luta é ganha ou perdida. “Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’ (Rm 13.9).
O oitavo mandamento afirma: “Não furtarás”. O apóstolo Paulo escreveu: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom. para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade’’ (Ef 4.28).
O nono mandamento é: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. É uma advertência contra o pecado de perjúrio. Paulo ensina o mesmo mandamento na nova aliança: “Não darás falso testemunho” (Rm 13.9). “Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros” (Ef 4.25). “Não mintais uns aos outros, pois já vos despistes do velho homem com os seus feitos” (Cl 3.9).
O décimo mandamento diz: “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo”. O ensino da nova aliança é igual: “Porque bem sabeis isto: que nenhum… avarento… tem herança no reino de Cristo c de Deus” (Ef 5.5). “Nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes. nem os roubadores herdarão o Reino de Deus” (I Co 6.10). “Não cobiçoso de torpe ganância” (1 Tm 3.3). E Jesus afirma: “E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui”, e conta a história do rico insensato para ilustrar o seu mandamento, Lucas 12.15-21.
Não
estamos sem lei
Podemos ver, pois, que apesar de todos os mandamentos estarem repelidos no Novo Testamento, não há ordem alguma que obrigue os cristãos a guardar o sábado.
Argumentam os apologistas do sétimo dia que, se nos abstermos de adultério, mentira, idolatria, roubo, perjúrio etc., que é uma parte dos dez mandamentos, devemos igualmente cumprir a parte da lei referente ao sábado. A nossa resposta é: o motivo por que não praticamos aqueles pecados é porque eles são proibidos na nova aliança, do qual o Senhor Jesus é mediador. Não estamos sem lei. mas sob a lei de Cristo. I Coríntios 9.21.
Deus providenciou uma provisão para os que erraram na antiga aliança: o sacrifício segundo a lei levítica. Deus também estabeleceu uma provisão para os que erram na segunda aliança: a provisão de Jesus Cristo, o Justo, que derramou o seu sangue para propiciação pelos nossos pecados e pelos de todo o mundo. Tomando-nos culpados de desobediência contra alguns de seus mandamentos, encontramos perdão de Deus em nome de Jesus, se confessarmos os nossos pecados.
Os defensores do sábado alegam que esse dia era reconhecido pelos primitivos cristãos até que o imperador Constantino, em 321, mudou o dia de guarda de sábado para domingo; outros dizem que foi um papa que fez isso. Mas a verdade é que os primitivos cristãos guardavam o domingo como dia de descanso e adoração, e isso durante três séculos antes de haver Constantino reconhecido oficialmente esse dia como o descanso cristão. É o que vemos na história da Igreja.
Muito mais poderia ser dito sobre o assunto, mas uma palavra de Deus em Gálatas 5.22 e 23 é suficiente para terminá-lo: ‘”Mas o fruto do Espírito é: caridade [amor], gozo, paz, longanimidade, benignidade. bondade, fé. mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei”.
Depois de ter registrado o fruto de uma vida cheia do Espírito, Paulo diz: “Contra essas coisas não há lei”. Nem a lei de Moisés nem a lei de Cristo podem condenar uma vida que produz esse fruto.
A antiga aliança foi o bulbo de onde cresceu a flor da nova aliança. Quando o bulbo cumpriu sua missão, surgiu a flor bela, independente, capaz, mas continuou mantendo íntima relação que confunde a muitos. Sou forçado, portanto, a advertir a grande insensatez que está em preferir o bulbo à flor, ou em forçar o bulbo a ocupar o lugar da flor. Aqui reside o erro de tentar guardar os artigos concernentes à primeira aliança, enquanto se pode viver sob os privilégios abençoados da segunda!
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