O Sínodo de Dort reuniu calvinistas da Holanda e de oito países da Europa, que condenaram os cinco pontos dos remonstrantes, fazendo surgir, em resposta a estes, os cinco pontos calvinistas, os quais, formando posteriormente um acróstico, receberiam o nome de Tulip (“tulipa”, em inglês): Total Depravity (“Depravação Total”), Unconditional Election (“Eleição Incondicional”), Limited Atonement (“Expiação Limitada”), Irresistible Grace (“Graça Irresistível”) e Perseverance of the Saints (“Perseverança dos Santos”). Esses 5 pontos – ou os textos desenvolvidos em favor deles durante o Sínodo – são chamados oficialmente de “Cânones de Dort”. O detalhe é que algumas dessas condenações distorcem o posicionamento dos remonstrantes, que, por exemplo, nunca negaram a Depravação Total.
Isso aconteceu porque os
remonstrantes sequer tiveram a oportunidade de ser realmente ouvidos no Sínodo.
Para dar uma aparência de justiça, o Sínodo contou com alguns depoimentos de remonstrantes, mas sob as seguintes regras: os treze remonstrantes intimados para
comparecer ao Sínodo não teriam assentos como delegados, pois estavam sendo convocados como réus, logo todos teriam seu direito de voto impedido; os remonstrantes não poderiam participar das reuniões e de seus debates – eles ficavam em uma outra sala, esperando serem chamados pelo presidente do Sínodo para falar apenas o que fosse pedido –; depois de darem um depoimento, voltavam imediatamente à tal sala, sem terem direito à tréplica; os remonstrantes não escolheram seus representantes, mas, sim, o Sínodo; e os remonstrantes só poderiam responder em latim. Somente na vigésima segunda sessão do Sínodo lhes foi permitido aparecer para defender sua posição, sendo que só um poderia falar, representando todos (no caso, Simão Episcópio); depois, eles só puderam apresentar sua posição por escrito e, meses antes do Sínodo acabar, os remonstrantes foram simplesmente dispensados do Sínodo(sic)!Como se não bastasse, o presidente
sinodal era John Bogerman (1576-1637), um calvinista que chegara ao encontro
com fama de defender a pena de morte aos “hereges arminianos”. Aliás, alguns
calvinistas que estavam no Sínodo defendiam o mesmo, embora não fossem maioria,
enquanto todos os remonstrantes pediam “a tolerância e a indulgência em relação
às diferenças de opinião sobre assuntos religiosos”.
Bogerman também fora aquele
que,juntamente com Gomarus, em um dos debates deste com Armínio, afirmou:
“As Escrituras devem ser
interpretadas de acordo com o Catecismo de Heidelberg e a Confissão Belga”. Ao
que Armínio respondera: “Como alguém poderia afirmar mais claramente que eles
estavam decididos a canonizar estes dois documentos humanos e instituí-los como
os dois bezerros idolátricos em Dã e Berseba?”.
Havia no sínodo 18 comissários
políticos nomeados pelos Estados-Gerais, o Sínodo foi supervisionado pelos
Estados-Gerais e todas as suas despesas foram pagas pelos Estados-Gerais,
incluindo as dos delegados estrangeiros convidados. As sessões eram públicas,
chegando a ser assistidas por grande número de espectadores.
O resultado do Sínodo de Dort foram
cerca de 200 pastores destituídos de suas funções e exilados, e Oldenbarnevelt,
paralelamente a Dort, condenado à decapitação como traidor do país. Uma
verdadeira vergonha, da qual se arrependeriam depois os pastores e teólogos
Daniel Tilenus (1563-1633), Thomas Goad (1576-1638) e John Hales (1584-1656),
que participaram do Sínodo de Dort, mas depois se tornaram arminianos.
Entre os que participaram do Sínodo,
estavam ainda Matthias Martinius (1572-1630) e Ludwig Crocius (1586-1655),
professores na Universidade de Bremen, na Alemanha. Admiradores declarados da
teologia de Felipe Melanchton, ambos foram ardorosos defensores de que a
Expiação de Cristo foi ilimitada, suficiente para salvar toda a humanidade,
apesar de ser eficiente só para os eleitos, razão pela qual, ao participarem do
Sínodo de Dort, tiveram discussões homéricas naquele concílio com calvinistas
rígidos, como, por exemplo, Francisco Gomarus, principal inimigo de Armínio.
Crocius chegou, inclusive, a fazer uma crítica pública ao presidente do Sínodo,
o também calvinista rígido Johannes Bogermann, por sua dureza para com os
seguidores de Armínio. Ademais, ele manifestou várias vezes simpatia em relação
aos posicionamentos arminianos durante Dort e pós-Dort. Martinius, por sua vez,
ameaçou até abandonar o Sínodo.
Conta-se que foi “principalmente”
pela “influência” deste “que o infralapsarianismo obteve vitória sobre o
supralapsarianismo no Sínodo de Dort”.
Mesmo tendo a posição pró-Expiação
Ilimitada derrotada no Sínodo de Dort, Martinius e Crocius, a contragosto,
subscreveram a decisão daquele concílio. Lembrando que também defenderam a
Expiação Ilimitada em Dort, ao lado dos dois teólogos alemães, os teólogos
ingleses John Davenant (1572-1641), Joseph Hall (1574-1656), Samuel Ward
(1572-1643), Johan Heinrich Alsted e Thomas Goad (1576-1638), sendo que este
último, depois do concílio, se tornaria arminiano juntamente com os já
mencionados teólogos ingleses John Hales e Daniel Tilenus.
…
Aliás, sobre Dort, disse Martinius:
“Havia ali alguns divinos, alguns humanos e alguns diabólicos”. Sobre o Sínodo
de Dort, o rei Tiago I, da Inglaterra, que inicialmente aprovara a realização
do conclave, enviando uma representação britânica, diria também, um ano após
aquela decisão: “Essa doutrina [definida nos Cânones de Dort] é tão horrível
que eu estou persuadido de que se houvesse um concílio de espíritos imundos
reunidos no inferno, e seu príncipe, o Diabo, fosse colocar a questão a
todos eles em geral, ou a cada um em particular, para obter sua opinião sobre o
meio mais provável de incitar o ódio dos homens contra Deus, seu Criador, nada
poderia ser inventado por eles que seria mais eficaz para este propósito, ou
que poderia colocar uma afronta maior sobre o amor de Deus pela humanidade, do
que esse infame decreto do recente Sínodo [de Dort]”.
Somente após a morte de Maurício de
Orange-Nassau, ocorrida em 1625, quando o príncipe Frederico Henrique de
Maurício (1584-1647), seu irmão, assumiu seu lugar, os arminianos foram
autorizados a retornar à Holanda. Um deles, o já mencionado Simão Episcópio
(1583-1643), aluno de Armínio, substituiria Gomarus na cadeira de professor de
Teologia na Universidade de Leiden.
——–
– Extraído do livro de Silas Daniel,
Arminianismo, a mecânica da salvação, np. Editora CPAD.
Artigo compilado
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