CIDADE DO VATICANO - Um escândalo de corrupção
explodiu no coração da Igreja Católica depois que uma TV italiana revelou, na
noite de quarta-feira (02-05-12), cartas em que o ex-secretário-geral do
Vaticano Carlo Maria Vigano denuncia superfaturamento e outras irregularidades
na Santa Sé. No ano passado, Vigano acabou transferido para Washington, onde
atua como núncio apostólico, apesar de pedir para permanecer no cargo no
Vaticano, no qual sua permanência estava prevista até 2014.
Nas cartas enviadas em 2011 a superiores —
incluindo o próprio Papa Bento XVI — Vigano diz ter encontrado "uma rede
de corrupção, nepotismo e favorecimento" nos contratos para a conservação
da Cidade do Vaticano. O ex-secretário-geral diz que os funcionários da equipe
do Vaticano eram desmoralizados pelo fato de "os serviços serem sempre
entregues às mesmas companhias a pelo menos o dobro do preço cobrado fora do
Vaticano. O superfaturamento teria atingido até o presépio natalino da Praça de
São Pedro. Vigano reduziu seu custo de instalação e manutenção de 550 mil em
2009 para 350 mil em 2010.
O então secretário-geral também aponta
irregularidades na gestão do dinheiro da Igreja. Numa carta de abril do ano
passado, ele diz que a administração de alguns investimentos do Vaticano foi
entregue a fundos "que cuidam mais dos seus próprios interesses do que dos
nossos" e "nos fizeram perder US$ 2,5 milhões numa única
transação".
As cartas foram escritas após Vigano ter sido
informado de sua transferência. Ele se queixa ao Papa e diz que, mesmo que
tecnicamente tenha sido promovido, a mudança "seria uma derrota difícil de
aceitar" e "provocaria muita desorientação e desencorajaria aqueles
que acreditaram que era possível extirpar muitas das situações de corrupção e
abuso de poder que estão enraizadas na administração de vários
departamentos". Ele disse ser vítima de uma campanha de desprestígio por
funcionários descontentes com suas medidas anticorrupção. Apesar dos apelos,
Vigano foi enviado aos EUA.
O Vaticano reagiu à reportagem da rede de TV La 7
com críticas, embora tenha admitido a autenticidade das cartas ao expressar "tristeza
com a publicação de documentos reservados". A Santa Sé disse que a TV
"trata assuntos complicados de maneira parcial e banal" e afirma
estar pronta a ir à Justiça "defender a honra de pessoas honestas".
Sobre a transferência, o Vaticano diz que isso é prova "da indubitável
confiança" depositada em Vigano pelo Papa.
Fonte: O GLOBO
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