Como os gurus da autoajuda encaram os
famosos “‘ 7 pecados capitais” e o que a Bíblia diz sobre cada um deles
Pecar faz mal à saúde, certo? Errado!
Pelo menos para os novos “gurus” da modernidade. Para eles, pecados como
preguiça, avareza, orgulho, ira, gula, luxúria e inveja – os famosos “7 pecados
capitais” –, quando postos em prática “na medida certa”, não levariam
necessariamente ao desastre. Ao contrário, podem conduzir ao sucesso tanto
pessoal como profissional, se bem administrados e aplicados.
Embora tal doutrina apregoada por uma série de
títulos de autoajuda seja polêmica (pra não dizer herética à luz do que a
ética, pra não dizer também na própria Bíblia, ensina), ela tem estado em voga
já um bom tempo e tem sido sim posta em prática por muitos. Isso porque no
mundo de hoje, em que a concorrência é grande e até desleal, se não, desumana,
quando o sucesso pessoal e profissional parecem estar em primeiro lugar e acima
de tudo e todos, pecados como orgulho, avareza e inveja são tidos como uma
poderosa arma para se chegar ao topo. Sob essa ótica dessa gente, pessoas
honestas e ingênuas podem até ir para o céu, mas jamais conquistarão o sucesso
aqui na Terra.
Vejamos, primeiro, o que é e/ou tem sido
apregoado sobre cada um desses pecados, para depois os analisarmos à luz da
Palavra, da Bíblia, dos ensinos de Jesus. Diga-se de passagem, pecado aqui
mencionado no contexto dessa doutrina de “ego-ajuda” e até mesmo à luz desses
chamados “tempos modernos”, é algo jamais necessariamente mau. Aliás, nada mau,
mas muitíssimo relativo, dependendo do ângulo que se olhe. E há quem, à simples
menção da palavra pecado, proteste: “Não venha com seus conceitos retrógrados e
moralistas, pois pecado pra mim remete à culpa, e não me sinto nem um pouco
culpado com tudo que sou e faço. Ao contrário, sinto-me feliz e realizado.”
Tenso! Vejamos então cada um dos 7 pecados tidos como “capitais” (ou
“capetais”?):
Preguiça: De acordo com
essa nova doutrina, não fazer nada às vezes é melhor do que fazer de tudo. Ou
seja, a ociosidade, para os bem-sucedidos, é benéfica a partir do momento em
que tal exercício deixa a mente livre para novas ideias e novos planos. Não
está se falando aqui necessariamente do chamado “ócio criativo”, ainda que tão
polêmico e nem sempre aceito, principalmente nas empresas, quando tempo é
dinheiro. Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, preguiça é
definida como “aversão ao trabalho, morosidade, negligência, moleza,
indolência, vadiagem.
Avareza: Segundo ainda o
Aurélio, o avarento é aquele indivíduo mesquinho e apegado ao dinheiro. Para
esses novos conselheiros da autoajuda, ser avarento não é pecado, especialmente
porque está relacionado a economizar arduamente, o que significa ter amor aos
próprios bens e aos dos outros.
Orgulho: É considerado o
“pecado mais importante”, segundo acredita-se, para se obter sucesso, pois se
trata da autoestima, a forma como a pessoa se vê. Tal atitude – ou pecado – é
útil para as pessoas conseguirem a fama e manter-se no poder.
Ira: De acordo
também com essa nova doutrina, ira significa tenacidade, determinação, rigor e
capacidade de comando, atitude essas que podem conduzir mais rapidamente ao
sucesso e à vitória pessoal e profissional.
Gula: Segundo esta
nova definição, não estaria necessariamente ligada apenas à comida, mas a tudo.
É aquele apetite voraz por novidades, livros e até por empresas.
Luxúria: “Uma saudável
busca por qualquer tipo de prazer.” Assim é concebida a luxúria pelos novos
mestres da conduta moderna. O desafio, porém, sob essa ótica, é considerar como
sendo “saudável” uma busca que visa nada mais, nada menos, que o próprio
prazer. Em nome dessa satisfação e suposta “felicidade”, vale (e vale-se) de
tudo, a despeito das “boas intenções.” O que poderia haver de saudável nisso?
Inveja: É vista como a
capacidade de desejar ardentemente um bem ou uma qualidade que outra pessoa
possui. Mais uma vez: tenso!
OS 7 PECADOS CAPITAIS À LUZ DA
PALAVRA
Para efeito agora de comparação e mesmo
de análise, para uma tomada de posição a respeito no sentido de conceber ou não
esses valores à luz da cristandade, vejamos o que a Bíblia comenta a respeito
dos 7 pecados capitais. Para uma abordagem mais ampla de todos os textos
bíblicos sobre esses e tantos outros pecados, só mesmo consultando toda a
Bíblia (esforço que vale a pena):
Preguiça: O sábio
Salomão, em um de seus provérbios (19.15) foi enfático ao afirmar: “A
indolência conduz ao sono profundo, e o preguiçoso passa fome.” Ele recomenda
então: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso!...” (Pv 6.6). Diga-sede passagem,
aliás, por todo o livro de Provérbios vemos referências claras sobre a
preguiça.
Avareza: Sobre isso,
Salomão também afirma: “... o que aborrece a avareza viverá muitos anos.” (Pv
28.16). O próprio Jesus recomendou: “Não acumuleis para vós outros tesouros
sobre a terra... porque onde está teu tesouro, aí também estará o vosso
coração.” O princípio maior que rege a avareza é o egoísmo. Para quem tem o
mínimo de conhecimento bíblico e caminhada na fé, há de se recordar do que foi
dito também por Jesus a um homem em parábola narrada aos Seus discípulos:
“Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem
será?” (Lc 12.20). Tudo por que o pobre homem tencionava construir celeiro para
si, e cogitara: “... Que farei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos?
Disse então: Farei isto: derribarei os meus celeiros e edificarei outros
maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens; e direi à minha
alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come,
bebe, regala-te” (versos 19 e 20). A Bíblia King James coloca a sentença do
verso 20 de Lucas 12 nesses termos: “Contudo, Deus lhe afirmou: ‘Tolo! Esta
mesma noite arrebatarei a tua alma. E todos os bens que tens entesourado para
quem ficarão?’” Mais claro que isso...
Orgulho: Dentre todos os
pecados “mais condenáveis” na Bíblia (todos na verdade o são, porque não há
escala de grandeza para Deus com relação a pecado) está o orgulho, pois sua
base é justamente a soberba. Quanto a ela, não há meio termo: “Deus resiste aos
soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça.” De novo, a King James:
“Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes.”. A ideia de ser
resistido por Deus não é nada agradável.
Ira: O salmista Davi
exorta: “Deixa a ira, abandona o furor...” (Sl 37. 8a). Salomão também afirma:
“Cruel é o furor e impetuosa é a ira...” (Pv 27.4). Em Tiago 1.19, 20, lê-se:
“Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para
ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz
a justiça de Deus”.
Gula: Jesus
recomendou aos Seus discípulos no Sermão da Montanha: “Por isso vos digo: Não
andeis ansiosos...” Paulo, escrevendo aos filipenses (Fp 3. 18,19), se
referindo aos inimigos da cruz, diz: “O destino deles é a perdição, o deus
deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se
preocupam com as coisas terrenas.”
Luxúria: A Bíblia
associa o pecado da luxúria ao da lascívia e da sensualidade, já que se trata
da busca sem limites pelo prazer a qualquer custo. A lascívia é apontada como
um dos pecados da carne, e quem o pratica, como adverte o apóstolo Paulo,
jamais herdará o reino de Deus (Gl 5.19-21).
Inveja: Salomão afirmou
acerca desse pecado: “... a inveja é a podridão dos ossos.” (Pv 14.30). No
mesmo verso em que Salomão fala da ira e o furor, ele admite: “...quem pode
resistir a inveja?” (Pv 27. 4)
O ponto de partida para o presente texto
foi a publicação das obras de Stanley Bin, autor do livro O que Faria
Maquiavel? - Os fins justificam os meios, no qual afirma: “Devemos ser
egoístas, narcisistas, manipuladores, impulsivos e criativos na conquista do
que desejamos”, e ainda Marc Lewis, escritor do sugestivo (e polêmico) livro
Sin to Win (em português, Pecar para Vencer), lançado na Inglaterra, em que
também afirma: “Os 7 pecados capitais formam um código moral criado com a única
intenção de segurar nosso progresso.” As referidas obras foram citadas numa reportagem
publicada pela revista “Tudo” em 2002 (Edição nº 83, de 30/08), sob o título:
“Enquanto os anjinhos fracassam, os pecadores vencem.” A proposta aqui não é a
de contestar ou refutar o que fora dito pela “Tudo”, mas, sim, a de uma
reflexão para mudança de postura quanto ao que anda sendo dito por aí, tanto
fora quanto dentro do país sobre questões tão sérias e delicadas como a ética,
a moral, os costumes, princípios e valores. Uma vez que muitos dos conselhos
expostos são encontrados também em livros de autoajuda, é crescente o número de
pessoas que recorrem a esse tipo de literatura a fim de obterem sucesso na
vida. Não há nada de errado em ser bem-sucedido. Contudo, o caminho que se
percorre, muitas vezes, é questionável.
Decorridos 11 anos de publicação da
reportagem de Tudo, muita ou nenhuma coisa mudou no sentido do que vem sendo
lançado e dito (e vice-versa). E mais que isso! O que vem sendo colocado em
prática. Afirmou certa feita o escritor irlandês Oscar Wilde: “Não há outro
pecado além da estupidez.” Martinho Lutero foi um pouco mais longe ao dizer:
“Todo o pecado é um tipo de mentira.” Cabe aqui, mais uma vez, recorrermos aos
conselhos do sábio Salomão. Como: “Não seja sábio aos teus próprios olhos...”
(Pv 3.7); ou “Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em
caminhos de morte.” (Pv 13.12); e por fim, “Sobretudo o que se deve guardar,
guarda o teu coração...” (Pv 4. 23).
Em tempos como este que vivemos de
quebrantamento, arrependimento e clamor, muito mais que só de protesto, quando
ansiamos por uma transformação de nossa nação, mas em primeiro lugar, de nosso
coração, pois a mudança começa em nós, como Igreja verdadeira de Cristo, rever
não apenas esses 7, mas tantos outros pecados que porventura estejamos
abrigando, para não dizer pondo em prática, para abandoná-los de
vez, é mais que fundamental. É a
primeira e única condição para que de fato experimentemos cura em nossa terra.
Seja essa terra o país que vivemos ou o coração, o nosso interior, o nosso
espírito. Basta ler e reler atenciosamente o texto de 2 Crônicas 7.14 (e todo
seu contexto) para que se perceba isso.
Marcelo Ferreira
PARA
LER E NÃO PECAR
Para um maior aprofundamento do que foi
exposto aqui, e sob também uma ótica e ética bíblicas, como sugestão de leitura
indicamos o livro Sete Pecados Capitais – Navegando através do caos em uma era
de confusão moral, lançado pela Shedd Publicações. E para um maior
aprofundamento sobre o tema, sobre por que 7 pecados, e não, 1, 2, 3, ou 8, 9,
10, e por aí vai, sugerimos uma rápida pesquisa em qualquer site de busca, para
que se tenha noção histórica do tema e da procedência do mesmo.
Fonte: Jornal Atos Hoje